Mouzar Benedito – Acho interessante como tem alguns nomes de gente que se identificam com certas regiões ou estados. Não que em outros lugares não existam, mas são em número muito menor.
Por exemplo: Geraldo Magela. Sempre que escuto alguém falar que tem esse nome já imagino que é de uma região do leste de Minas Gerais. Quando uma mulher diz que se chama Abadia, já imagino que é do Triângulo Mineiro. Nunca ouvi esse nome em outro lugar. São filhas de devotos de Nossa Senhora da Abadia, padroeira de Uberaba.
Em Belo Horizonte, conheci alguns homens com nome raro também, Eustáquio, por causa do Padre Eustáquio, que foi famoso na cidade e virou o nome de um bairro. Edmilson não é incomum, mas conheci muito mais Edmilsons na Paraíba.Gaudêncio, quase só conheci gaúcho. Maria do Socorro, a maioria das que conheci são do Rio Grande do Norte. Houve uma época em que eu ia muito ao Ceará e conheci muitas Iracemas. Era comum demais lá na terra de José de Alencar, autor do romance com esse nome.
E Raimundo? Não é um nome incomum. Mas eu me lembro de um lugar que tinha mais.
Numa época de seca braba, no sul do Piauí, começaram a seleção de vítimas dela para entrarem nas frentes de trabalho, ganhando meio salário mínimo por mês e uma coisa que chamavam de cesta básica mas era só farinha e rapadura.
Essas frentes de trabalho eram um horror, muitos trabalhadores ficavam carregando pedra de um lado pro outro, uma coisa sem sentido. Um burocrata foi fazer o trabalho de selecionar quem tinha direito a participar dessas frentes, como se fosse um privilégio.
Os homens ficaram numa fila e iam falando o nome ao tal burocrata, que anotava no alto de uma ficha que acabaria de preencher depois.
Então foi anotando o nome de um a um.
— Qual é o seu nome? — perguntou ao primeiro.
— Raimundo Mendes — foi a resposta.
E continuou:
— Seu nome?
— Raimundo Nonato da Silva
— Seu nome?
— Raimundo Pereira do Nascimento.
O burocrata cochichou para um colega que ali só tinha Raimundos e continuou:
— Seu nome?
— Raimundo Nonato Oliveira.
— Seu nome?
— Raimundo Machado.
O burocrata abriu um sorriso e perguntou ao seguinte:
— Seu nome?
Lá de trás alguém gritou:
— Num fala não, Mundim. Ele qué mangá de nós.