A soberania brasileira – que é a liberdade que o país tem para administrar e usufruir de suas riquezas – estará seriamente comprometida caso se concretize o projeto de Temer que é a venda da Eletrobras e Eletronorte para empresas estrangeiras. Além de promoverem o desenvolvimento econômico e social com a produção e geração de energia, as duas empresas são também estratégicas porque detém um vasto conhecimento sobre as potencialidades hídricas e energéticas e que vão ser entregues de mãos beijadas para as potências mundiais.
Esta foi a principal preocupação apresentada durante a Audiência Pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará, comandada pelo deputado Carlos Bordalo (PT), a pedido do Sindicato dos Urbanitários do Pará. A CUT Pará esteve representada por sua presidenta Euci Ana Gonçalves.
“Privatizar empresas estatais é uma agenda tardia, abandonada no mundo todo e derrotada nas quatro últimas eleições presidenciais. A privatização da Eletrobrás e Eletronorte é inegociável”, provocou Bordalo. Nailor Gato, da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), explicou que o governo Temer tem necessidade de entregar nossas empresas porque essa é a agenda de quem financiou o golpe que derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff. “Defender a Eletronorte e a Eletrobras é defender a Amazônia e o Brasil. E nós temos que fazer essa luta”, falou.
José Bianor, presidente do Sindicato dos Urbanitários do Pará e com 41 anos de Eletronorte, alertou que o processo de privatização é rápido, pois uma vez consumada a venda são apenas 200 dias para entregar tudo. “Isso é uma agressão, uma maldade muito grande”, lamentou.
O representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Iuri Paulino observou que o Brasil está indo na contramão do mundo, pois nenhuma nação vende suas empresas estratégicas e até mesmo os Estados Unidos estão reestatizando as suas. Iuri mostrou que o governo já investiu R$ 400 bilhões na Eletrobrás, dinheiro dos impostos pagos pelo povo brasileiro, mas que Temer agora vai vendê-la por R$ 20 bilhões.
“É uma quadrilha que entrou para saquear o que puder porque sabe que não tem muito tempo. O povo brasileiro precisa ser informado sobre isso, precisamos conversar, fazer audiências nos municípios, nos bairros”, defendeu Iuri.
A presidenta da CUT Pará, Euci Ana Gonçalves, informou que a central fez recentemente seu congresso nacional extraordinário onde foi aprovado um plano de lutas que inclui a defesa das empresas públicas. Segundo ela, a CUT vai investir num processo de formação para fazer com que essas informações cheguem à população. “Nós, sindicalistas, precisamos conhecer a história para fazer a defesa dessas empresas”. Ela também defendeu a unidade política da classe trabalhadora para reagir contra esse e outros ataques contra o país e seu povo.
Dificuldade de Acesso – Todos os debatedores foram unânimes em mostrar que, com a privatização das empresas de energia elétrica, o acesso aos serviços será muito mais difícil porque o empresário só vai investir no que dá lucro. E a consequência imediata será a extinção do programa Luz Para Todos e um aumento de 17% nas tarifas, dados já revelados pela própria Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
O trabalho feito pela Eletrobrás e sua empresas com o programa Luz Para Todos exemplifica muito bem, na opinião dos debatedores, o que é uma empresa pública. “A Eletrobras quer lucro, mas visa principalmente o desenvolvimento do Brasil, busca atender à população brasileira. É o papel dela chegar às pequenas comunidades porque a energia não é mercadoria, é uma questão social e estratégica”, disse Carlos Campos, urbanitário do Distrito Federal.
Exemplos não faltaram para mostrar os malefícios da privatização. José Irton, do estado do Amazonas, citou que a venda das empresas de Telecomunicações durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi um projeto falido. ‘As empresas faliram e agora o Temer está salvando elas com dinheiro público. Essas empresas privadas não investem em telefonia móvel nos rincões da Amazônia porque não é interesse do empresário, já que não há retorno financeiro”.
Ronaldo Romero, do Dieese e também urbanitário, deu um exemplo local para mostrar os prejuízos provocados com a venda de empresas públicas. Desde a data da privatização das Centrais Elétricas do Pará (Celpa), em julho de 1998, a tarifa de energia já subiu mais de 550%, enquanto a inflação do período é de 240%. Quanto aos empregos, ele mostrou que na década de 1980, a Celpa tinha três mil trabalhadores e hoje o quadro reduziu para 1.400.
Ronaldo Romero defendeu que os movimentos e entidades precisam provocar os governadores da região, os parlamentares estaduais, federais e senadores a se posicionarem se são contra ou a favor da venda da Eletrobras/Eletronorte.
Nesta sexta-feira (15) haverá uma ato em frente a Eletrobrás, na avenida Perimetral, em Belém.
Fonte: Fátima Gonçalves