A gente ama crianças. As nossas crianças

A gente ama crianças. As nossas crianças

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Diante da possibilidade de constrangimento da pequena, cresceu em nós o inconformismo pela violência ao vulnerável. Gritamos, muito, a plenos pulmões. E nos sentimos satisfeitos como defensores dos inocentes.

Porque nós amamos crianças.

As nossas crianças.

Quem é preto, pobre, maltrapilho, criança não é.

Pra esses, a indiferença. De longe…

Se chegarem mais perto e ousarem nos incomodar, queremos o buraco. Reduzam a maioridade penal, porque criança na cela só nos emociona se foi levada pelos pais.

Se for levada por nós, porque era preta, pobre, maltrapilha e chegou muito perto, não emociona. Merece. Criança que rouba, mata, estupra, ainda que a violência tenha raízes na nossa indiferença, merece o buraco, a imundice, a violência sexual, a doença.

E depois queremos a forca. Porque criança preta, pobre, fedida, ladra, assassina, merece morrer. Onde já se viu, gastar dinheiro pra sustentar essas crianças?

Mas nós amamos crianças. As nossas crianças.

Passamos desatentos todos os dias pelas que dormem nas calçadas, é verdade. Comendo lixo. Mas, que fazer por elas?

Melhor fingir que não existem, e protestar pelas crianças com seus pais no Museu. Dói menos. Espiamos a culpa por todas essas crianças que matamos diariamente com a nossa indiferença.”

Texto de Gabriela Prioli Della Vedova

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