“Uma coisa é um país, outra uma cicatriz.”

“Uma coisa é um país, outra uma cicatriz.”

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O que dizer após o Senado garantir que Aécio Neves siga praticando corrupção e obstrução de justiça e na iminência da Câmara assegurar o mesmo a Michel Temer?

Os dias têm sido assim: o poder que emana do povo é exercido por corruptos para privilegiar e proteger corruptos.
Até quando vamos repetir a frase com que Affonso Romano de Sant’Anna intitulou o poema publicado no Jornal do Brasil, em 06 de janeiro de 1980 e que se revela absolutamente atual?

Que País É Este?

A pergunta sintetiza todas as interrogações para o entulho de imoralidades na política brasileira acumulado nos últimos três anos.

Em um dos fragmentos do poema, a súplica que cabe em todas as gargantas hoje, as roucas e as moucas:

“Uma coisa é um país,
outra uma cicatriz.
Uma coisa é um país,
outra é abatida cerviz.
Uma coisa é um país,
outra esses duros perfis.
Deveria eu catar os que sobraram
os que se arrependeram,
os que sobreviveram em suas tocas
e num seminário de erradios ratos
suplicar:
– expliquem-me a mim
e ao meu país?

É fácil explicar como Aécio Neves conseguiu ‘convencer’ 44 senadores de que no áudio em que pede 2 milhões de reais a um empresário corrupto, o negócio tratado era um empréstimo em troca de um apartamento.

É moleza entender por que os senadores acreditaram ser um negócio lícito, mesmo com a ameaça de Aécio de mandar matar o encarregado de receber a grana.

Dos 44 senadores que autorizaram a revogação das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal, 19 são investigados na Operação Lava Jato.

A troca de interesses em desfrutar da mesma impunidade é inequívoca e passa pelo Planalto, Câmara e Senado.
Se Michel Temer articulou pessoalmente a salvação de Aécio, distribuindo 200 milhões em emendas orçamentárias, é previsível que também tenha a segunda denúncia por corrupção barrada.

Que País É este, não sei.

Mas, de que o povo é covarde, não tenho dúvida.

A imoralidade descomunal é fruto da pusilanimidade geral.

Está claro em outro fragmento do poema de Sant’Anna:

“Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos, semeamos promessa e vento
com tempestades na boca, sonhamos a paz na Suécia
com suíças militares, vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia, senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos, bebemos cachaça e brahma
Joaquim Silvério e derrama, a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama, cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder, pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.”

Porque uma coisa é um país, outra uma cicatriz.
Hoje não temos presidente, não temos Congresso, STF, nada!

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