A intimidação ao meu trabalho jornalístico ocorreu na inauguração do Hospital de Câncer da Amazônia, inaugurado com a presença do presidente golpista Michel Temer e quase toda a bancada federal rondoniense, além do presidente da Assembleia Legislativa, da Câmara de Vereadores, prefeito da capital e governador.
Como colunista do portal de notícias Brasil 247, passei pelo credenciamento como jornalista e tive a bolsa revistada para ter acesso à área destinada à imprensa.
Tudo certo, não fosse a camiseta com os dizeres: Fora Temer. Um ato solitário e pacífico, incapaz de ameaçar a ordem no recinto.
A cada passo, um olhar de estranheza e intimidação.
Somente pessoas autorizadas e a imprensa puderam acompanhar o evento num auditório, justamente para que só os aplausos a Temer sejam mostrados nos veículos de comunicação.
Ouvi por duas horas os discursos enfadonhos de políticos, muitos investigados por corrupção.
Registrei, anotei, fiz o que todo jornalista foi fazer lá.
A diferença é que permaneci submetida ao constrangimento dos agentes da segurança do presidente.
Pela primeira vez em 26 anos de jornalismo senti ao cobrir um evento, a violação das garantias constitucionais de liberdade de imprensa e de expressão.
Ao sair antecipadamente para evitar o caótico trânsito que se formou ao longo da BR-364, uma agente da segurança me seguiu e perguntou onde eu estava indo.
Respondi que ia embora, pois já tinha feito meu trabalho. Não satisfeita, perguntou qual caminho tomaria para sair do local.
Virei às costas e fui seguida por outros cinco agentes até poucos metros da entrada do local. Um deles, me acompanhou até o fim e me pediu desculpas. Me disse ainda um “tamo junto”, em referência à camiseta que eu usei com a intenção de protestar e não de provocar desordem.
As fotos em que apareço encurralada e seguida por seguranças de Temer ao fazer meu trabalho foram feitas por colegas de imprensa que testemunharam o fato injustificável.
Hoje eu, amanhã quantos jornalistas mais?
Nem Michel Temer, nem todo o forte aparato de segurança, nem seus asseclas e muito menos a bancada federal de Rondônia me submeteram ao medo de informar e protestar contra o governo golpista e corrupto.
Da próxima vez irei com a mesma camiseta e até para facilitar protestos, já que sou a vigiada com tanto rigor por tantos agentes de segurança.
Fui e voltei sozinha do circo montado para aplaudir Temer, com a cara, a coragem e a camiseta de luta.
Fora Temer!
Fora essa bancada federal que usou palavras como gratidão e benção divina para celebrar a vinda do presidente golpista.
Dos 18 políticos que o ladearam, contei 4 que não têm processos na justiça.
Estavam lá, o senador Valdir Raupp que é réu na Lava Jato, o senador Ivo Cassol que foi condenado à unanimidade por fraude em licitações e deputados investigados por vários ilícitos.
Mas, a minha camiseta é que sugeriu perigo.