Quem conseguiu autorização para assistir o evento de inauguração do Hospital de Câncer da Amazônia, saiu afadigado com os discursos dos políticos.
Era mais quem cochichava na área reservada à imprensa sobre a redundância de falácias. Ninguém me contou, vi um jornalista tirar um cochilo sem expectativa de que algo diferente fosse dito.
Os deputados e senadores que usaram o microfone, muitos há décadas na política, são contumazes ao recorrer à tautologia, à lógica proposicional.
A repetição de argumentos torna os discursos modorrentos e puramente politiqueiros, portanto, enganosos.
“Quero dizer da minha alegria em sonhar com esse dia que está acontecendo. Porto Velho que ganha, Rondônia que ganha e as pessoas que ganham”, disse a deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO).
É inequívoca a vagueza do conteúdo e o forte apelo emocional.
Como ela, abusou da retórica a deputada Marinha Raupp (PMDB-RO).
Um discurso longo que resumiu, claro, com o óbvio.
“É um sentimento que toca o nosso coração”.
Veja como o dicionário Michaelis define Tautologia:
1 GRAM Forma de linguagem que consiste em usar palavras diferentes para expressar a mesma ideia ou pensamento.
2 RET Expressão que, embora use termos diferentes, repete os mesmos conceitos ou ideias já emitidas, sem aclarar ou aprofundar seu entendimento.
3 LÓG Proposição que se mantém sempre verdadeira, uma vez que o atributo é uma repetição do sujeito: A água é molhada.
Na filosofia o argumento tautológico é o que se explica por ele próprio, “independentemente dos valores de verdade atribuídos às proposições individuais que a compõem. Em geral, o termo é usado para indicar algo óbvio e que não requer nenhuma demonstração, dada a sua óbvia verdade.”
Marinha Raupp, no sexto mandato na Câmara, esposa do senador réu na Lava Jato, é especialista em discurso com expressões linguísticas vagas que fisgam o eleitor pela emoção.
Mariana Carvalho, herdeira de currais eleitorais, utiliza a mesma fórmula. O irmão, coitado, nem isso consegue como presidente da Câmara de Vereadores de Porto Velho.
Toda a bancada federal rondoniense carece de franqueza e capacidade renovar argumentos.
A classe política de um modo geral investe e se dá bem repetindo os argumentos emocionalmente carregados.
Assim, Aécio Neves levou milhares a experimentar uma overdose de hipocrisia e perdas de direitos em apenas um ano.
Os sofistas destruíram as políticas positivas de educação para manter o povo vulnerável ao cabresto pelo voto.
A distribuição de emendas parlamentares alimenta os currais eleitorais tão carentes de tudo, sobretudo de consciência política. Convenhamos, isso é fácil de fazer quando se negocia interesses classistas.
Todos aplaudiram o golpista Michel Temer, quando disse que as reformas trabalhista e da previdência são extraordinárias e contemplam um anseio da sociedade. Risos e palmas para um mentiroso, já que todas as pesquisas denunciaram a reprovação popular quase absoluta às reformas.
E nas ruas, de boca em boca se repete que em 2018, com o mesmo discurso falacioso, essa quinquilharia irá se manter ou dominar outro espaço de poder.
Não espere transformação na política de cima pra baixo.
Os políticos não têm motivos para mudar o que tem dado certo, para eles, claro.
E ao pensar ‘neles’, inclua a grande mídia, o mercado financeiro, a elite empresarial.
Insista em questionar a mesmice do engodo dos discursos políticos.
E quem os viu, não verá.
“Se você assume que não existe esperança, então você garante que não haverá esperança. Se você assume que existe um instinto em direção à liberdade, então existem oportunidades de mudar as coisas”