DCM, por Joaquim de Carvalho – Cristovam Buarque passou boa parte da vida tentando criar um personagem: o senador da Educação. Mas ele passará à história como golpista. Há evidências para considerá-lo também corrupto e mentiroso.
“Posso ser golpista para você, mas não sou corrupto perante minha consciência e perante o Brasil”, escreveu no Twitter.
Não é bem assim.
As histórias que relacionam Cristovam à corrupção são antigas e se mantêm ao longo do tempo.
Em1994, Cristovam, então filiado ao PT, gerou uma crise no partido quando se descobriu que ele havia aceitado 400 mil reais (o equivalente a 500 mil dólares na época, o equivalente a 2 milhões de reais hoje) de doação da Odebrecht para sua campanha a governador.
Quem fez a doação foi o então diretor de contratos da empreiteira, Ricardo Ferraz, cujo nome voltou à tona na delação do ex-vice-presidente da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, no ano passado.
Ricardo Ferraz é o RF das planilhas da empreiteira, e ele aparece como veículo para a entrega de recursos a um certo Reitor, que seria o apelido de Cristovam nos registros de contabilidade clandestina da Odebrecht.
Em 2006, quando foi candidato a presidente pelo PDT, recebeu recursos não contabilizados de um ex-banqueiro, por indicação do governador Geraldo Alckmin.
A revelação foi feita por um dos ex-coordenadores de sua campanha, o jornalista Luiz Fernando Emediato.
“Cristovam infelizmente foi obrigado pelas circunstâncias a aceitar doações não contabilizadas de pelo menos uma empreiteira, de um ex-banqueiro, por recomendação da campanha de Geraldo Alckmin, também candidato à presidência, e da própria campanha de Alckmin, em troca de apoio no segundo no segundo turno contra Lula”, disse Emediato.
Em 2010, o presidente do PDT no Distrito Federal, Ezequiel Nascimento, também denunciou o caixa 2 na campanha de Cristovam Buarque. Segundo Ezequiel, ele teria recebido doações no valor de R$ 950 mil, mas deste valor apenas R$ 250 mil foram contabilizados.
Na época em que fez a denúncia, Ezequiel Nascimento se colocou à disposição do Conselho de Ética do Senado para dar outras informações. Porém nunca foi chamado.
Num perfil devastador de Cristovam Buaque, de Robert Max Steffens, publicado pelo GGN, mostra que a corrupção também atingiu o entorno do senador.
Veja um trecho da reportagem:
Marcelo Aguiar, pupilo do Senador Cristovam até pouco tempo, assume a Secretaria Extraordinária de Ensino Integral, por indicação do Senador Cristovam, durante o governo José Roberto Arruda (ex-DEM). O Instituto Sangari, do amigo pessoal de Cristovam, Jorge Werthein, que contribuiu para sua campanha ao Senado em 2010, com ao menos 200 mil reais oficialmente, foi contratado pelo governo do Distrito Federal por quase R$ 300 milhões, sem licitação, e suspeito de participar do esquema de arrecadação paralela do então governador Arruda, quando a secretaria de Educação do DF terceirizou, na prática, o ensino científico das escolas públicas para a Sangari do Brasil (vinculada ao Instituto Sangari), citada no inquérito da Operação Caixa de Pandora.
Em auditoria a Segunda Divisão de Auditoria da Secretaria de Auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal afirma que em razão das evidências de inexecução contratual pela empresa SANGARI DO BRASIL LTDA., defende-se a proposta de determinar à Secretaria de Educação a instauração de processo administrativo, com vistas à aplicação das sanções previstas no art. 87 da Lei de Licitações. Também se apresenta a sugestão de alertar à Secretaria de Educação que a execução dos contratos no âmbito dessa Secretaria deve ser precedida da implementação de estrutura de acompanhamento e controle, compatível com as características e valor do objeto, de modo a garantir a regular liquidação e pagamento das despesas.
O mesmo Tribunal afirma que a omissão dos gestores, dentre eles Marcelo Aguiar, que deixaram de adotar medidas corretivas para sanar as irregularidades na execução do Programa Ciência em Foco e para promover as necessárias alterações contratuais. O fato de o TCDF, por meio da Decisão n.º 4.571/09, ter determinado expressamente a necessidade de reavaliação do Programa em termos quantitativos e qualitativos, além de caracterizar o descumprimento da Decisão Plenária, agrava a conduta negligente dos gestores, aplicando-se, no caso, o art. 60 da Lei Orgânica do TCDF. O UAG, na condição de ordenador de despesas, e o Secretário, em razão da relevância do Programa, tinham ciência da situação e permitiram a continuidade do Programa, mesmo diante das irregularidades apontados em diversos relatórios.
Os fatos mostram que Cristovam Buaque nunca foi o que talvez ele pense ser. Ou queira ser. Ou finge ser.
Vaidoso, mantém em seu gabinete no Senado um espaço com arquivos de sua história pessoal, como se fosse um Darcy Ribeiro, fundador da Universidade Federal de Brasília, a UnB, onde ele foi reitor.
Darcy e Cristovam eram interlocutores de Fernando Henrique Cardoso, quando este era presidente.
Darcy no PDT e Cristovam no PT, partidos que lhe faziam oposição.
Nas memórias de Fernando Henrique, Darcy, então senador, aparece como instigante, intelectual de ideias originais e entusiasmante.
Já Cristovam, na época governador, mostrava nos encontros noturnos com Fernando Henrique a personalidade que agora se torna conhecida de todos.
O PT era contra o projeto de emenda da reeleição, Cristovam a favor. O então governador do Distrito Federal também era favorável a reformas constitucionais de Fernando Henrique Cardoso, mas lamentava não poder dizer isso publicamente. Falava mal dos sindicalistas e do PT, para aparentemente deleite de Fernando Henrique Cardoso, a quem incentivava para assumir papel de liderança no mundo.
Cristovam quis entrar para história como um quadro da educação, mas será, no máximo, citado como nota de rodapé, como político provinciano, nada confiável, golpista, com um pé na corrupção e sem nenhum compromisso com a verdade.