Por Lelê Teles
o Brasil, hoje, é um garoto negro e pobre, solitário no meio da multidão, deslumbrado com os fogos de artifício dos ricos e os rumores de risos artificias à sua volta.
sem futuro, com frio, com fome e com medo.
o réveillon, como sabemos, essa data que marca a virada de um ano para o outro, é um rito que seguimos por osmose.
no Brasil, o novo ano só começa de verdade depois do carnaval.
os festejos de Momo são o nosso rito de passagem oficioso.
depois de passarmos uma semana enchendo a cara, distribuindo sorrisos e simpatias, abraçando estranhos, se drogando, mijando e transando no meio da rua, a gente acorda numa quarta-feira de ressaca.
tira a fantasia, vai no espelho e desfaz a maquiagem; vê se há roxidões pelo corpo, toma-se uma pílula do dia seguinte, um engov, bebe-se uma água de coco, morde-se uma banda de melancia e zás…
aquelas figuras felizes e sorridentes de outrora voltam, como num passe de mágica, a mostrar o dedo médio para uma van escolar lotada de criança no caminho do trabalho, a destratar garçons, padeiros, pedreiros, porteiros…
a coisa volta ao normal.
as pessoas de bens colocam de volta suas máscaras sociais; sempre carrancudas.
no entanto, a anormalidade é tamanha nesses tempos trevosos que 2018 começará ainda no grito de carnaval.
“que tiro foi esse?”, dirão, quando Lula passar flutuando nos braços da multidão logo após o voto dos três mosqueteiros do Paraná amanhã, 24 de janeiro.
é amigo, o tiro vai sair pela culatra.
qual será o placar da votação?
talvez o único a sabê-lo está morto, era aquele sábio polvo adivinho, um molusco alemão de nome Paul, que brilhou durante a Copa do Mundo da África do Sul acertando os resultados das partidas.
aqui ficamos com a nossa brasileiríssima Mãe Dináh, que não errava nunca; a nossa pitonisa cravaria: “ou Lula será condenado ou será absolvido!”
agora, atentai bem.
não vai ter algema nos pés e nas mãos de Lula, não vai ter cadeia. não é uma condenação no sentido jurídico da palavra.
o que os rapazes de Porto Alegre vão decidir amanhã é se Lula vai ao ostracismo ou não.
é um espetáculo político.
o ostracismo foi criado pelo pai da democracia, o grego Clístenes.
e à época era uma multidão que ia à ágora decidir que homem seria banido da vida pública.
precisava-se de pelo menos seis mil pessoas marcando seu voto no óstraco pra coisa valer.
aqui bastam três machos brancos burgueses.
no entanto, os gregos revogaram esse instituto, porque ele serviu para o general Alcebíades Clinias massacrar Hipérbolo, seu adversário.
como, hiperbolicamente, estão a massacrar Lula da Silva hoje.
Alcebíades vive mimetizado nas figuras dos barões da midiazona, dos parasitas rentistas e dos burgueses togados.
essa trinca tentou estrangular o petê achincalhando a sua imagem, prendendo seus líderes, falseando suas biografias.
anunciaram diversas vezes que o petê tinha acabado.
concomitantemente, iniciaram uma caçada midiática para destruir a imagem de Lula.
o diabo é que eles não conseguiram nem uma coisa nem outra.
e sequer conseguiram produzir um candidato para fazer frente a Lula e ao petê; por isso apelaram para os capas-preta.
amanhã será 3×0 ou 2×1, o placar pouco importa.
importa que os demófobos acenderão a chama da revolta.
a partir de amanhã o Brasil terá um grito uníssono que reverberará até outubro:
eleição sem Lula é fraude!
esse é o tiro.
palavra da salvação.