É isso mesmo e não é pra rir.
Está no facebook da vereadora Ada Dantas Bouabaid, a pesquisa na qual sugere que estabelecimentos que comercializem bebidas alcóolicas em Porto Velho permaneçam abertos só até meia noite.
Ela usou a Lei Seca como pretexto para saber se seus seguidores apoiam o ‘toque de recolher’.
“Há comprovações de que nos dias que há fiscalização (Lei Seca), o número de pacientes no João Paulo II, reduz em quase 30%”, disse.
A medida extrema, segundo a vereadora, evitaria acidentes de trânsito e consequentemente superlotação no Pronto Socorro da capital.
É mais uma proposta demagoga que não justifica limitar a liberdade das pessoas.
São várias as causas de acidentes e estão relacionadas à culpa de condutores, falta de manutenção de veículos e péssimas condições de vias.
Ada Dantas optou pela fundamentação fácil e autoritária.
E como ela, muitos políticos costumam agir.
O Maio Amarelo foi instituído em Porto Velho pelo presidente da Câmara Maurício Carvalho, do PSDB, sob pretexto de “…fomentar as ações preventivas de redução de acidentes de trânsito, no município de Porto Velho, abordando a segurança viária e mobilizando toda a sociedade”. A justificativa foi apresentada tão logo o vereador lançou o projeto à apreciação de seus pares.
Realmente, a iniciativa seria excepcional se não estivesse atrelada à demagogia, desfaçatez e relativização dos crimes cometidos no trânsito, geralmente trazidos à tona por operações da Lei Seca em todo o Brasil.
Todo mundo quer melhorar o trânsito: menos acidentes, menos mortes, menos caos, menos danos. Mas muita gente não quer cumprir a lei à risca. E quando a teia da Lei Seca pega os “grandes bacanas”, que estão sujeitos tanto quanto nós, reles mortais, o que deveria servir de exemplo acaba sendo minimizado de maneira sórdida, ridícula, tacanha e mesquinha.
O primeiro exemplo local é o próprio prefeito Hildon Chaves, tão tucano quanto Maurício. Ainda durante a campanha de 2016 descobriu-se que o ex-promotor bebeu, dirigiu e… foi detido na blitz da Lei Seca por direção perigosa.
Quando o fato se tornou público, apoiadores de campanha e eleitores aleatórios saíram em defesa do homem que, durante décadas, tinha como missão pública a defesa intransigente da legislação brasileira.
“Quem nunca caiu?”. “A lei é muito rigorosa”. “Estão perseguindo o candidato porque ele não é político”. Estas frases resumem, de maneira bem ordinária, que às vezes o que mais se exige para os outros não é a mesma dose no que queremos para nós e os nossos.
Maurício Carvalho, a mesma coisa. Ele foi preso em flagrante em 2013 por embriaguez ao volante. Não foi condenado porque cumpriu uma série de exigências impostas pelo Juízo para obter a suspensão condicional do processo. Entre elas: proibição de frequentar bares ou locais de comercialização de bebida alcoólica após às 22h; não se ausentar da Comarca por mais de 30 dias sem comunicar ao Juízo; obrigação de relatar qualquer mudança de endereço ao magistrado e assistir a palestras sobre os efeitos nocivos do álcool no trânsito e à saúde das pessoas.
Estas exigências foram cumpridas durante dois anos, logo o juiz extinguiu o processo sem punição. Na prática, Maurício nunca cometeu crime, pois sequer consta em seus antecedentes a prática da ilicitude. Tudo bem, é um direito de todo o cidadão que preencher os requisitos da lei; ele, nesta condição, usufruiu como qualquer um de nós faria.
Mas e o exemplo?
Hildon não tem desculpas, embora não fosse prefeito, ter passado pelo Ministério Público do Estado o coloca no paredão da vergonha, péssimo exemplo. Maurício não era político quando preso na Lei Seca, mas já era irmão da deputada federal Mariana Carvalho (PSDB) e filho do ex-vice governador Aparício, médico e empresário conhecidíssimo em Rondônia. Ele tinha plena consciência das consequências de seus atos, assim como toda pessoa pública.
Não me levem a mal. Todos nós erramos. Neste quesito o que nos diferencia é como nos portamos diante do erro.
Qual o problema em reconhecer o vacilo, se comprometer de verdade com mudanças e seguir? Nenhum!
Só que poucos revelam seus erros né?
E, convenhamos, figuras que exercem cargos públicos têm maior responsabilidade na hora de seguir a lei, não só porque é o mínimo exigido, mas principalmente para dar o exemplo.
Ada Dantas, aliás, já deu um péssimo exemplo! Nas redes sociais, chamou uma professora de puta, vagabunda e quenga do PT, o que deveria ter sido motivo de punição na Câmara de Vereadores. E só, porque a professora criticou a defesa que a vereadora fez das férias do prefeito na Europa com seis meses de gestão.
O rigor de conduta que exige dos outros, não foi seguido por ela, nem exigido de seus pares quando bateu boca nas redes sociais com linguajar lupanar.
Fora isso, num país com 13 milhões de desempregados, é insensatez a vereadora quer limitar funcionamento de bares e restaurantes ao toque de recolher da ‘Cinderela’.
Ada tem um discurso ‘conservador’, é seguidora de Jair Bolsonaro, o presidenciável que elogia torturador, zomba do estupro e já confessou na televisão que fazia sexo com galinhas.
Não me parece nem um pouco adequada para interferir na vida dos boêmios.
Toque de recolher? Só se for da senhora à sua própria insignificância, dona Ada Dantas.