Odeio os indiferentes. Creio que viver significa tomar partido. Quem verdadeiramente vive, não pode deixar de ser cidadão e partisano. A indiferença e a abulia são parasitismo, são canalhice, não vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. A indiferença opera potentemente na história. Passivamente, mas opera. É a fatalidade, aquilo com que não podemos contar. Distorce programas e arruína os planos melhor concebidos. É a matéria bruta desbaratadora da inteligência. O que sucede, o mal que se abate sobre todos, acontece porque a massa dos homens abdica de sua vontade, permite a promulgação de leis que só a revolta poderá derrogar; consente o acesso o poder de homens que só o amotinamento conseguirá derrubar. A massa ignora por despreocupação, e então parece coisa da fatalidade que a todos atropela: quem consente receberá o mesmo que quem dissente, o que sabia, sofrerá o mesmo que aquele que não sabia, o ativo terá o mesmo prêmio que o indiferente. Alguns reclamarão piedosamente, outros blasfemarão obscenamente, mas ninguém, ou alguns poucos se perguntarão: se eu tivesse tentado fazer valer minha vontade, teria ocorrido o que ocorreu?
*texto de Antonio Gramsci que morreu num hospital penitenciário, apenas seis dias depois de recuperar formalmente a liberdade, após sofrer mais de 10 anos de prisão, metade da rigorosa pena aplicada pelo tribunal de Mussolini.