Paraíso do Tuiuti, cultura e educação

Paraíso do Tuiuti, cultura e educação

pes

No 247 – O histórico desfile de resistência e de luta da escola de samba Paraíso do Tuiuti, no grupo especial do carnaval do Rio de Janeiro deste ano, representa a vitória não só da escola pública, mas também do projeto de Brasil, que os governos do PT lutaram para construir na educação e na cultura.

Para além das cenas antológicas, como a representação do presidente ilegítimo, Michel Temer, na forma de presidente vampiro do neoliberalismo e a ala dos patos da Fiesp, por exemplo, o desfile da Tuiuti configurou-se como um grito de denúncia contra toda a farsa que foi o golpe de 2014, o retrocesso social e a volta da exclusão, que ele também representa.

Com ousadia e coragem raras na cultura brasileira, a Tuiuti enfrentou o poderoso oligopólio midiático do país, em especial as Organizações Globo que detinha o monopólio da transmissão ao vivo, ao escancarar o papel central que os meios de comunicação desempenharam na manipulação da opinião pública no afastamento de uma presidenta legitimamente eleita, sem que ela tenha cometido crime de responsabilidade. Foi evidente o constrangimento e ensurdecedora a autocensura dos apresentadores da emissora durante a transmissão do desfile da Tuiuti. Tudo isso ao vivo e em rede nacional.

A retaliação não tardou. Como destacou o jornalista Paulo Moreira Leite, em sua coluna no 247, “ao minimizar a participação da Paraíso do Tuiti, privilegiando apresentações convencionais, cujo maior destaque eram novidades de sempre em torno de celebridades homenageadas, a Globo repetiu um dos piores momentos de sua história cultural”. O jornalista compara a cobertura da Globo às denúncias feitas pela Tuiuti à censura realizada pela ditadura militar e acatada pela emissora à música “Pra dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, do Festival Internacional da Canção, de 1968.

Mas o que a transmissão não conseguiu censurar foram as diversas manifestações populares, durante as entradas ao vivo de seus repórteres, especialmente na GloboNews, com pedidos de “Fora Temer” ou entoando a volta do PT. Manifestações legítimas de uma democracia, ainda mais em ambientes de expressão cultural.

Voltando à Tuiuti, com o enredo intitulado “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?,”, a escola também trouxe para a pauta o debate sobre nosso longo passado de escravidão e nossa dívida histórica com os negros. Foi justamente por ter esse entendimento e esse compromisso social, que nossos governos criaram um ministério contra a descriminação racial e assumiram políticas concretas afirmativas inovadoras, como as cotas na universidade e nos empregos públicos.

As cotas tratam da escola pública, da desigualdade e da descriminação. Procuram atacar, de forma articulada com demais ações afirmativas, duas dimensões fundamentais do problema histórico da exclusão educacional brasileira: a desigualdade social e a discriminação racial, como jáhavia sido feito com o Prouni. Por isso, o número de negros e de negras nas universidades cresceu 286% em nossos governos. Um grande avanço, ainda que muito baixo em relação ao peso demográfico dessa população, historicamente alijada da educação superior em nosso país.

Não poderia deixar de mencionar, ainda, recente vitória que tivemos, em mais uma ação no STF contra o DEM, partido que foi contra o Prouni, contra o Enem, contra as cotas, e que, agora, procura diluir a inclusão da história da África na nova base nacional curricular. Partido do atual ministro da Educação, grande aliado do PSDB, e que dirige o Ministério junto com sua escola sem partido.

Eles são contra a história da África e dos movimentos negros, que nós introduzimos na formação dos professores e no currículo das escolas públicas. Eles acreditam e defendem um Brasil de privilégios, no qual os pobres não cabem no orçamento. Por isso tudo, o desfile da Tuiuti é a vitória da escola pública, verdadeiramente sem partido. É a vitória da democracia, da cultura e da cidadania. Representa, no fim das contas, a retomada de um Brasil com autoestima, soberania e mais inclusivo para todos e para todas.

Aloizio Mercadante é economista, professor licenciado da PUC-SP e da Unicamp, foi deputado federal e senador pelo PT-SP, ministro-chefe da Casa Civil, ministro da Educação e ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Envie seu Comentário

comments