Não bastasse os vários escândalos que se sucederam na Assembleia Legislativa de Rondônia na última década, um áudio gravado clandestinamente revela o planejamento de um golpe inspirado no que derrubou a presidenta eleita, Dilma Rousseff.
O diálogo entre os deputados Jesuíno Boabaid (PMN) e Maurão de Carvalho (MDB), presidente da Assembleia Legislativa, chocou a sociedade pela forma ardilosa como planejam utilizar um impeachment para chantagear o governador Confúcio Moura.
O atual governo é formado com MDB e PSB e há cerca de um mês estava tudo certo para que Confúcio se afastasse do cargo para concorrer ao Senado e o vice, Daniel Pereira (PSB) à reeleição.
A perspectiva colocou interesses de ambas a siglas em choque e a saída sugerida pelo deputado Jesuíno ao deputado Maurão foi denunciar suposto ato de corrupção na construção de uma ponte para provocar o impeachment.
“Não fale pra ninguém. Eu faço o pedido de impeachment, mas pense num pedido igual fizeram o da Dilma…contas reprovadas, só falar daquela condenação de tomada de contas, da ponte, aí vem considerando, considerando, aí pede, chega! Maurão, ele (Confúcio) vai se tremer”, diz Jesuíno.
Leia, a seguir, a transcrição da gravação clandestina feita supostamente pelo Governo do Estado:
A imprensa local acusa setores do governo pelo grampo e aos deputados, restou condenar a prática ilícita para desviar a atenção do teor do diálogo mais que indecoroso.
O áudio foi revelado por meio do WhatsApp e o governador que mantém um blog, se restringiu até o momento a publicar um verso de Guimarães Rosa em seu perfil no Facebook.
Daniel Pereira (PSB) ia assumir o comando do Estado a partir de 5 de abril, conforme anunciado pelo próprio Confúcio e já tinha feito mudanças no Departamento de Estradas, Rodagem, Infraestrutura e Serviços Públicos – DER e na Polícia Militar.
No último dia 2, a justiça bloqueou R$ 18, 5 milhões das contas de agentes do DER e empresários, por suspeitas de “ato de improbidade, na construção de uma ponte sobre o rio Machado; visando o ressarcimento de 18 milhões e 500 mil reais.”
O governador desfez as alterações feitas pelo vice nas pastas e a imprensa noticiou o fato como um rompimento entre os dois, o que atiçou a sanha dos adversários para tirar vantagem política.
Segundo o áudio, o golpe parlamentar seria utilizado como forma de chantagear o governador para permanecer no cargo e com isso enfraquecer o vice na corrida pelo comando do estado.
O jornal eletrônico Tudorondonia divulgou o áudio:
Nas redes sociais, a sociedade cobra explicações dos envolvidos no escândalo e a investigação do grampo clandestino e da conduta dos parlamentares pelo diálogo que sugere, inclusive omissão à denúncia que teriam conhecimento de suposto crime de responsabilidade.
O pré-candidato ao governo pela Rede Sustentabilidade, Vinícius Miguel, postou nas redes sociais:
“Reflexões sobre as estranhas transações
Gravação de origem ainda desconhecida expôs uma estranha transação visando a derrubada de Confúcio Moura (MDB). O plano envolveria ao menos 3 parlamentares, incluindo o próprio Presidente do Parlamento, Maurão de Carvalho, do mesmo partido que o Governador.
Não faço aqui uma defesa de Confúcio, não caberia a mim fazê-la. Mas negociatas do tipo, fabricando “crimes de responsabilidade” com o intento de obter o poder político são imorais e espúrias.
Se existiu crime de responsabilidade e os ditos parlamentares não apuraram, cometeram, em tese, infração ética punível com a perda do mandato e ato possivelmente de improbidade administrativa. Se não existiu o crime de responsabilidade mencionado na gravação e mesmo assim ocorreu a maquinação imoral e conspiratória, igualmente os parlamentares incorreram em quebra de decoro parlamentar, usando os mandatos e regimentos para fins pessoais e ilícitos.
O Parlamento precisa urgentemente apurar essa gravíssima falha de conduta amplamente divulgada na imprensa!”