No Brasil 247 – O poder de seu intelecto contrastava cruelmente com a fraqueza de seu corpo, devastado pela doença do neurônio motor que ele desenvolveu a partir dos 21 anos.
(Reuters) – O físico britânico Stephen Hawking, que buscou explicar algumas das mais complicadas questões da vida trabalhando sob a sombra de uma provável morte prematura, morreu aos 76 anos.
Hawking morreu em paz em sua casa na cidade universitária de Cambridge, nas primeiras horas desta quarta-feira. “Estamos profundamente tristes pelo falecimento hoje de nosso amado pai”, disseram seus filhos Lucy, Robert e Tim em comunicado.
A mente extraordinária de Hawking testou os limites do entendimento humano tanto sobre a vastidão do espaço como sobre o complicado mundo submolecular da teoria quântica, que ele dizia que poderia prever o que acontece no início e no fim do tempo.
Seu trabalho cobriu desde as origens do universo até a perspectiva tentadora das viagens no tempo e os mistérios dos buracos negros.
“Ele foi um grande cientista e um homem extraordinário, cujos trabalho e legado viverão por muitos anos”, disse sua família. “Sua coragem e persistência, assim como seu brilho e humor, inspiraram pessoas do mundo todo”.
O poder de seu intelecto contrastava cruelmente com a fraqueza de seu corpo, devastado pela doença do neurônio motor que ele desenvolveu a partir dos 21 anos de idade.
Hawking passou a maior parte da vida preso a uma cadeira de rodas. Devido à deterioração de sua condição, ele teve que recorrer a um sintetizador de voz para falar e ao movimento das sobrancelhas para se comunicar.
A doença o instigou a trabalhar mais duro, mas também contribuiu para o fracasso de seus dois casamentos, como relatou no livro de memórias “Minha Breve História”, de 2013.
No livro ele conta como reagiu ao diagnóstico: “Achei que era muito injusto – por que aquilo devia acontecer comigo?”, escreveu.
“À época achei que minha vida estava acabada e que jamais desenvolveria o potencial que sentia ter. Mas agora, 50 anos depois, me sinto discretamente satisfeito com a minha vida”.
Hawking alcançou fama internacional após a publicação de “Uma Breve História do Tempo”, de 1988, um dos livros mais complexos a conquistar o grande público, tendo permanecido na lista de mais vendidos do jornal Sunday Times durante 237 semanas.
Ele disse tê-lo escrito para transmitir sua própria empolgação com descobertas então recentes sobre o universo.
“Meu objetivo original era escrever um livro que vendesse em bancas de aeroporto”, disse ele aos repórteres na ocasião. “Para ter certeza de que era compreensível, experimentei o livro com minhas enfermeiras. Acho que elas entenderam a maior parte”.
Ele se sentia particularmente orgulhoso por só ter usado uma equação matemática – a famosa E=MC2 da Teoria da Relatividade.
“Perdemos uma mente colossal e um espírito maravilhoso”, disse Tim Berners-Lee, o inventor da rede mundial de computadores. “Descanse em paz, Stephen Hawking”.
O reconhecimento popular de Hawking foi tão grande que ele participou da série “Star Trek: Next Generation” e sua versão de desenho animado apareceu em “Os Simpsons”.
“A Teoria de Tudo”, filme de 2014 que tem o ator Eddie Redmayne no papel do cientista, relata o surgimento de sua doença e os primeiros passos do estudante brilhante às voltas com buracos negros e o conceito de tempo.
VIDA PESSOAL
Sua saúde, e acidentes com sua cadeira de rodas, incluindo um no qual quebrou o quadril depois de se chocar com uma parede em dezembro de 2001 —“a parede venceu”, observou— fizeram com que ele rendesse manchetes por outras razões além de seu trabalho.
Em 2004 ele foi internado em um hospital de Cambridge com pneumonia e mais tarde foi transferido a um hospital especializado em coração e pulmão. Ele foi casado e se divorciou duas vezes.
Ele se casou com a universitária Jane Wilde em julho de 1965, e o casal teve três filhos, Robert, Lucy e Timothy. Mas em seu livro de memórias Hawking contou como sua esposa se deprimia cada vez mais à medida que seu estado de saúde piorava.
“Ela temia que eu morresse logo e queria alguém que desse apoio a ela e às crianças e se casasse com ela depois que eu me fosse”, escreveu.
Jane se envolveu com um músico local e lhe deu um quarto no apartamento da família, contou Hawking.
“Eu teria protestado, mas eu também imaginava uma morte precoce…”, disse. “Eu me sentia cada vez mais infeliz com o estreitamento do relacionamento (entre eles). No final eu não conseguia mais suportar a situação, e em 1990 me mudei para um apartamento com uma de minhas enfermeiras, Elaine Mason”.
Ele se divorciou de Jane no mesmo ano e se casou em 1995 com Elaine, cujo ex-marido David projetou o sintetizador de voz eletrônico que lhe permitia se comunicar.
“Meu casamento com Elaine foi apaixonado e tempestuoso”, escreveu em suas memórias. “Tínhamos nossos altos e baixos, mas o fato de Elaine ser enfermeira salvou minha vida em várias ocasiões”.
Mas isso também lhe impôs um fardo emocional, observou, e o casal se divorciou em 2007.
VIDA LONGA E PLENA
Stephen William Hawking nasceu em 8 de janeiro de 1942 da união do doutor Frank Hawking, um biólogo pesquisador na área de medicina tropical, e de sua mulher Isobel, e cresceu em Londres e seus arredores.
Ele estudou física na Universidade de Oxford e estava em seu primeiro ano de pesquisas em Cambridge quando foi diagnosticado com a doença do neurônio motor.
“Perceber que eu tinha uma doença incurável que provavelmente me mataria em alguns anos foi um pouco chocante”, disse ele em suas memórias.
Mas depois de ver um menino morrer de leucemia na ala de um hospital ele observou que algumas pessoas estavam muito piores do que ele, e que pelo menos sua condição não o fazia sentir-se doente.
Na verdade havia até vantagens em estar confinado a uma cadeira de rodas e ter que falar por um sintetizador de voz.
“Não tive que dar palestras ou ensinar estudantes universitários e não tive que participar de comitês tediosos que tomam tempo. Por isso consegui me devotar completamente à pesquisa”, escreveu em “Minha Breve História”.
“Possivelmente me tornei o cientista mais conhecido do mundo. Isso é em parte porque cientistas, tirando Einstein, não são estrelas do rock amplamente conhecidas e em parte porque me encaixei no estereótipo do gênio debilitado”.
Por Stephen Addison
Reportagem adicional de Guy Faulconbridge