Foi só pra ‘aparecer’ que o deputado federal Expedito Netto, do PSD, irritou-se com a vestimenta do vice-presidente do PDT e pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes no Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.
Nervoso, ordenou que na próxima vez que regressasse ao Congresso Nacional, o pedetista “venha com a vestimenta a-de-qua-da, e de terno e gravata”.
A Câmara dos Deputados não é a “Casa da Mãe Joana”, disse Netto.
“Se deputado tem de vir trabalhar trajando a roupa adequada, visitantes também devem entrar aqui trajando a roupa adequada”.
O rompante por recato no vestir gerou comentários negativos ao deputado nas redes sociais e vídeos do momento foram apagados.
Por que pegou mal, todos sabem.
A Câmara protagonizou momentos de indecência que nunca antes na história do país, como barrar duas investigações por corrupção contra o presidente Michel Temer.
Mais de 200 deputados respondem a processos na justiça e 59% dos 61 deputados investigados na Lava Jato até usaram o microfone pra defender o arquivamento da denúncia contra o presidente golpista.
O ‘incômodo’ do deputado por causa da roupa de Ciro Gomes repercutiu como um gesto ridículo.
E a bem da verdade, se o deputado perguntar muita gente vai dizer que tem tido mais respeito por um bordel do que pela Câmara.
O escritor Reinaldo Pimenta, professor de língua portuguesa, explicou a expressão popular ‘Casa da Mãe Joana’ que deu nome a seu livro, assim:
“É um lugar em que todo mundo manda e faz o que bem entende.
O rei francês, de 1285 a 1314, Felipe IV, o Belo, resolveu comprar uma briga feia: cobra impostos sobre os bens da Igreja. A discussão foi tão séria que em 1303 o papa Bonifácio VII excomungou Felipe, que, em represália e por não ser tão belo assim, mandou que um de seus legistas ( o perito em legislação, Felipe ainda estava vivo), Gulherme de Nogaret, invadisse a Itália e prendesse o papa. Bonifácio VIII morreu na prisão e foi sucedido pelo Bento IX. Logo, logo, em 1305 assumia um novo papa, Clemente V, que, seguindo um gentil conselho de Felipe, transferiu a sede do papado, de Roma para a cidade provençal de Avignon.
Avignon foi residência de 7 papas, de 1309 a 1378, mas no início não era só dos papas, pertencia a uma napolitana, Joana I, rainha de Nápoles.
Linda e inteligente, Joana era mecenas de poetas e intelectuais. Ela se casou com o primo, Andrew, irmão de Luís I, da Hungria. Andrew foi assassinado numa conspiração que, dizem as más línguas, teve participação da própria esposa.
Furibundo, Luís invadiu Nápoles em 1348, obrigando Joana a se refugiar em Avignon. No mesmo ano, ela vendeu a cidade a Clemente V, com a condição de ser declarada inocente de sua participação na morte do ex-marido. Joana foi assassinada por seu sobrinho e herdeiro, Carlos de Anjou em 1382.
Enquanto ainda mandava e desmandava em Avignon, Joana resolveu regulamentar os bordéis da cidade. Uma de suas medidas foi estabelecer que todo bordel deveria ter uma porta por onde todos entrariam. Assim, cada prostíbulo ficou conhecido como “o paço da mãe” (a dona da cidade) Joana”, com o sentido de uma casa que está aberta a qualquer um.
A expressão viajou até Portugal e veio para o Brasil, onde a palavra paço, de uso pouco popular, foi logo substituída por casa.”