No Balaio deo Kotscho – A suprema presidente Cármen Lúcia já avisou que não aceita pressão sobre o STF, mas o cerco da própria Justiça está se fechando sobre os ministros, a 72 horas do julgamento do habeas corpus de Lula.
Como tudo no Supremo, depende de onde vem a pressão, e a quem interessa, é claro.
Até o final deste domingo de Páscoa, mais de 3,8 mil juízes e procuradores já assinaram o manifesto pela manutenção da prisão após condenação em segunda instância para permitir a imediata prisão do ex-presidente.
Na mesma linha, em editoriais e comentários de seus principais colunistas, a grande mídia exerce pressão máxima nos ministros, em especial sobre Rosa Weber, o único voto ainda incerto.
Entre os subscritores do abaixo-assinado está Rodrigo Janot, o ex-procurador geral da República que denunciou duas vezes o presidente Michel Temer.
Não há registro anterior de manifestação de tal grandeza dos agentes do Poder Judiciário para influenciar uma decisão do Supremo Tribunal Federal.
O manifesto deverá ser entregue aos 11 ministros do tribunal nesta segunda-feira.
“A mudança de jurisprudência, nesse caso, implicará a liberação de inúmeros condenados, seja por crimes de corrupção, seja por delitos violentos, tais como estupro, roubo, homicídio etc”, afirma o documento.
Talvez inspirado na Semana Santa, o procurador da República e pregador Dalton Dallagnol foi mais longe: anunciou que fará jejum, uma espécie greve de fome religiosa, pela prisão de Lula.
Em sua conta no twitter, escreveu o procurador que se tornou famoso pelo power-point do esquema criminoso da Petrobras que seria comandado pelo ex-presidente Lula:
“4ª feira é o dia D da luta contra a corrupção na #LavaJato. Uma derrota significará que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos, por todo país, jamais serão responsabilizados, na Lava Jato e além. O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país”.
Dallagnol não explicou o que o levou a achar que “o cenário não é bom”. Deve ter informações que nós não conhecemos.
Entidades ruralistas marcaram uma grande manifestação em Brasília para a quarta-feira e esperam reunir pelo menos 15 mil fazendeiros para pressionar os ministros do STF contra o habeas corpus de Lula e a favor de uma anistia para os seus débitos no Funrural.
Grupos da direita “apartidária” que se notabilizaram nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff, como o MBL e o Vem Pra Rua, também marcaram manifestações para esta terça-feira pedindo a prisão de Lula.
As entidades reunidas na Frente Brasil Popular e o PT farão a defesa de Lula em frente ao Supremo Tribunal Federal durante o julgamento.
Nas redes sociais o clima atingiu a temperatura máxima de ofensas e agressões, que chegam a pedir o linchamento de adversários políticos.
Já ninguém discute se Lula é inocente ou culpado, se deve ou não ser preso: o que se questiona é se ele poderá ou não ser candidato em outubro.
E é exatamente isso o que estará em julgamento quarta-feira no STF, que não vai entrar no mérito do processo, mas se o ex-presidente tem ou não direito ao habeas corpus que possa evitar a sua prisão imediata.
Depois da Semana Santa, vem aí a Semana Quente que vai decidir o rumo das eleições de 2018.
Em se tratando do STF conflagrado, não dá para arriscar nenhum palpite. O que não falta neste momento é pressão, para desgosto de Cármen Lúcia.
E vida que segue. Para onde, ninguém sabe.