No Brasil, no tempo zero, após uma grande explosão com temperatura de milhões de graus.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que pessoas cultas e honestas, odeiam.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que juízes que sempre flutuaram entre multidões com seus discretos olhares periféricos, que mantiveram recato no vestir, falar e conviver socialmente, odeiam.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que cristãos que amavam ao próximo como a si mesmos e a Deus sobre todas as coisas, odeiam.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que advogados com o dever de lutar por justiça sem se deixar levar por suas convicções pessoais, odeiam.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que professores com a missão de educar e humanizar, odeiam.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que policiais nomeados pra prevenir e conter a violência, odeiam.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que médicos com o compromisso de salvar vidas de todos, independentemente de como vivem ou pensam, odeiam.
De repente, não mais que de repente, descobrimos que crianças, símbolo mais forte de pureza, já odeiam.
De repente, não mais que de repente, não sabemos o que fazer para barrar esse ódio.
“Houve muitas crises na história da humanidade, muitos períodos de interregno, nos quais as pessoas não sabiam o que fazer, mas elas sempre acharam um caminho.
A minha única preocupação é o tempo que levarão para achar o caminho agora. Quantas pessoas se tornarão vítimas até que a solução seja encontrada?”
Zygmunt Bauman