Brasil e a MISOGINIA na política

Brasil e a MISOGINIA na política

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No Jundiaí Agora, por Rose Gouvêia – A política é uma das muitas áreas em que a mulher está em desvantagem em relação ao homem. Nesta área, a desigualdade de gênero pode ser percebida com a seguinte comparação:

As mulheres são a maioria na população brasileira (51,7%), a maioria do eleitorado brasileiro (52,13%) e representam 44,27% dos filiados a partidos políticos.

Mas, apesar disso, as estatísticas para quadros femininos eleitos nas ultimas eleições 2014/2016 é ridiculamente irrisória: temos apenas 15% de mulheres no Senado Federal (dos 81 senadores, 13 são mulheres) apenas 12% de mulheres na Câmara Federal, (dos 513 deputados, 61 são mulheres), 9% de mulheres na Assembleia Legislativa de São Paulo (dos 94 parlamentares, 10 são mulheres) e 0% na Câmara de Vereadores de Jundiaí. (das 19 cadeiras, 19 são ocupadas por homens)

Se compararmos com estatísticas mundiais, teremos a vergonhosa certeza de que o Brasil está no caminho inverso da equidade de gênero na política. A média de representação de mulheres nos parlamentos no mundo é de 23,5%. Isso faz com que o Brasil ocupe o 154º lugar entre 193 países do ranking elaborado pela Inter Parliamentary Union – Associação dos Legislativos Nacionais de todo o mundo. O Brasil fica na frente apenas de alguns países árabes, do Oriente Médio e das Ilhas Polinésias.

A estrutura de poder dos partidos políticos brasileiros também dificulta a visibilidade de mulheres, posto que dominada por homens. O Partido dos Trabalhadores (PT) é um dos poucos que são presididos por uma mulher. Ou seja: os altos escalões dos partidos políticos distribuem as funções reproduzindo o machismo da sociedade.

E não bastasse a inexpressiva representatividade das mulheres nos espaços políticos, as que conseguem chegar lá são vistas com pouco respeito e muita misoginia, tanto por seus colegas parlamentares, como pelo senso comum social que cobra excessivamente das mulheres, mas releva posturas dos homens.

Quem não se lembra do processo de golpe, revestido de impeachment, pelo qual atravessou a presidente Dilma Rousseff? A narrativa das detrações contra a primeira governante mulher do País se pautou completamente na cultura machista e misógino do nosso País, com xingamentos relacionados ao seu gênero e não somente partindo de políticos, mas também de pessoas da sociedade de forma geral, homens e também mulheres, infelizmente.

Quando Dilma foi arrancada de sua cadeira, uma das frases mais ditas foi: “Depois da Dilma, será difícil uma mulher conseguir eleger-se presidente, novamente.”

Ora, mas quando o ex-presidente Fernando Collor, ou o deputado Eduardo Cunha foram retirados de suas funções, ninguém se lembrou de suas condições de gênero. Ninguém disse que depois deles, os homens perderiam a credibilidade na política.

Isso acontece por conta da nossa cultura misógina que associa mulheres a fraquezas e incapacidades, Ou seja: os defeitos seriam “condições inatas” das pessoas pertencentes ao gênero feminino.

Assim, quando alguém acredita que uma mulher errou, é naturalizado nas mentes machistas que ela errou por ser mulher. Aí todas as mulheres se tornam a “dona Maria do trânsito” aquela que “dirige mal e deveria pilotar um tanque.”

Definir todas as mulheres pela característica de uma mulher é desumanização, é misoginia. Mulheres são diferentes entre si e tem talentos, características e dificuldades diversas. Assim como os homens.

E a misoginia na política continua e se apresenta de mais uma forma. Os constantes comentários sobre a aparência de mulheres que tem cargos públicos são parte da narrativa de inferiorização da mulher, como se fosse um lembrete de que a função das mulheres no mundo é apenas enfeitar os ambientes.

Um exemplo recente disso, vimos numa das sessões do Senado Federal, no ano passado. Quando o presidente da Casa chamou a senadora Shéridan Oliveira (PSDB-RR) para votar um item, uma voz masculina se fez ouvir no Plenário, com a palavra “gostosa”. O autor dessa infeliz expressão nunca foi detectado, certamente por camaradagem de seus colegas homens que sabiam quem era, mas resolveram não denunciá-lo.

Também é comum comentários sobre o emocional das mulheres na política. Quando a mulher discorda da postura de seus colegas homens e trava um debate mais acalorado, logo é vista como “mulher histérica”, “mulher naqueles dias”. Quando é um político homem a se exaltar, defendendo seus pontos de vista, ele é visto como “homem de personalidade forte”.

Enfim, o cenário político ainda é visto no Brasil como jogo de homens. E se a política, por si só, já é desgastante, imagine para uma mulher política ainda ter que lidar com desgastes por conta de sua condição de gênero que em nada se relaciona com o contexto político; ou seja, não há razão para a questão de gênero interferir na política.

Igualdade na política também significa representatividade. Isso significa dizer que, quanto mais mulheres participarem da política, menos importância terá a distinção de gênero.

E para que isso aconteça, o Brasil precisa adotar medidas firmes para estimular a representatividade das mulheres na política. Duas das medidas, em curto prazo, são cotas obrigatórias para cadeiras femininas nos Parlamentos brasileiros e estímulos do poder público para que os partidos admitam mais mulheres em seus espaços hierárquicos e de decisão.

Além disso, e pensando num cenário de médio e longo prazo, temos que usar a educação como ferramenta de visibilidade e empoderamento das mulheres. Ensinar, desde cedo, as futuras e os futuros adultos que as mulheres e os homens, apesar das diferenças sob diversos aspectos, devem ser detentores dos mesmos direitos de cidadania, social e política. É o que chamamos de equidade.

E essa equidade das mulheres na política, tenho certeza, beneficiará a sociedade como um todo. Segundo matéria do Estadão do ano passado, pesquisas acadêmicas também têm refletido sobre a questão apurando que, em regimes democráticos, quanto maior é a presença de mulheres dentro do Legislativo e do Executivo, menor é a incidência de injustiças, como a corrupção.

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