A cada dia torna-se mais penoso moderar os comentários aqui no Balaio.
Por Ricardo Kotscho – Com raras exceções, a maioria nem lê o que foi publicado, talvez só o título e as primeiras linhas, e já saca o revólver virtual para atirar nos outros internautas e no blogueiro, sem a menor disposição para qualquer diálogo possível.
Fico aqui no meio do tiroteio tentando organizar um debate minimamente civilizado, mas já estou chegando à conclusão de que se trata de uma missão impossível.
As pessoas não querem mais prestar atenção no que os outros têm a dizer.
Querem apenas reafirmar suas convicções e desqualificar quem pensa diferente.
Trocaram argumentos por ofensas, chutam para todo lado, ignoram os fatos e partem para a agressão pura e simples.
Sei que é um retrato do clima de intolerância generalizado vivido no país, em que os dois lados em disputa não aceitam mais opiniões contrárias.
Tem um doente que escreve todos os dias só para me xingar e termina seus comentários cacarejando “kkkk”s.
Talvez seja por isso que muitos colegas blogueiros simplesmente fecharam as áreas de comentários, cortando qualquer possibilidade de diálogo, que era a grande conquista da internet.
Também já pensei em fazer isso, mas ainda resisto porque mantenho o blog para trocar ideias e não ficar apenas escrevendo o que penso.
Seria como jogar um texto escrito pela janela, sem ficar sabendo o que os outros pensam a respeito daquele assunto.
Há quase dez anos, a serem completados dia 11 de setembro, este é meu trabalho diário: escrever um post sobre os assuntos do dia e moderar os comentários.
Leio todos, deleto uma boa parte, respondo a alguns, mas no fim do dia me sinto frustrado com o tempo perdido.
No começo, era um prazer acompanhar a reação dos internautas logo após a publicação de um novo texto, algo que não acontecia quando trabalhava em jornais e revistas, quando não havia esta interação entre emissores e receptores de informações e opiniões.
Era muito raro algum leitor escrever uma carta ou telefonar para comentar o que leu.
Naqueles idos de 2008 e por um bom tempo, até as eleições de 2014, chegavam centenas e por vezes milhares de comentários diariamente, era um trabalho insano moderá-los, mas ao mesmo tempo muito gratificante.
Ficava sabendo o que os outros pensavam, descobria novas formas de ver as coisas, chegamos até a promover encontros entre os internautas para tornar real e ao vivo o debate virtual.
Isso ficou impossível a partir do momento em que o país se dividiu literalmente ao meio após a reeleição de Dilma e todo o processo que levou ao impeachment.
Faz dois anos que esta guerra chegou a extremos nas redes sociais.
Cada vez mais gente está deixando de participar dos debates, deixando o caminho livre para tirar do anonimato idiotas enrustidos em busca de seguidores para seus delírios e obsessões.
Querem apenas polemizar por polemizar para se sentir vivos na mediocridade das suas vidinhas inúteis, provocando os outros para ver se reagem às suas estultices.
Outros se refugiam em lembranças do passado, passam o dia publicando efemérides familiares ou eventos que não interessam a ninguém, a não ser a eles próprios.
Resisti bravamente a entrar nestas redes por achá-las apenas uma evasão de privacidade, mas valeu a pena entrar só para conhecer melhor o nível de indigência a que estamos chegando.
O que poderia ser um espaço democrático com acesso aberto a todos, reduziu-se a um triste desfile de atores decadentes da grande tragédia nacional, que gerou os bolsonaros e emebeeles da vida, os paneleiros e os patos amarelos, estas figuras patéticas que hoje disputam as migalhas do poder.
Ninguém ganhou esta guerra, perdemos todos, lamento constatar.
Vida que segue.