Condenação na famigerada ‘Operação Termópilas’ foi ignorada e processo de ex-governador na Lava Jato em Rondônia passou batido
EDITORIAL RONDÔNIA DINÂMICA
Porto Velho, RO – Com o abastecimento de combustível praticamente zerado – e o de insumos básicos correndo risco de chegar também à escassez, o Estado de Rondônia e seus cidadãos, a exemplo do que ocorre no país inteiro, sufocam com a crise estabelecida pelo movimento paredista deflagrado pelos caminhoneiros.
Aliás, sobre isso, há outro conceito estabelecido que destoa à compreensão grevista. Pela primeira vez em muito tempo, direita e esquerda parecem concordar quando opinam acerca do assunto; nesse panorama de denominador comum, a paralisação nas rodovias seria a prática deliberada denominada como locaute – movimento coordenado e incentivado por empresários do setor de transporte.
O ministro da Segurança Pública do governo Michel Temer (MDB), Raul Jungmann, chegou a informar que as transportadoras querem a redução do preço do óleo diesel para aumentar suas margens de lucro. A prática é, como já pontuado, conhecida como locaute, proibida por lei no Brasil.
Regionalmente, o desespero das pessoas e os reflexos tanto rasos quanto mais profundos de todo o caos vigente são extremamente benéficos para políticos envolvidos direta ou indiretamente em escândalos de corrupção.
Só nesta semana, por exemplo, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), declinou da competência da Suprema Corte para julgar o senador e ex-governador Ivo Cassol (PP) em processo relacionado à ‘Operação Lava Jato’.
Cassol e o ex-secretário de Planejamento João Carlos Gonçalves Ribeiro, delatados pelo colaborador Henrique Sarrano do Prado Valladares, são apontados, respectivamente, como “Maçaranduba” e “Dallas” na lista de propina distribuída pelo Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht, conforme noticiou o Rondônia Dinâmica.
Ambos teriam recebido R$ 3 milhões (Cassol, R$ 2 mi; Ribeiro, R$ 1 mi) como contrapartida ao favorecimento em certames administrativos atinentes à execução das obras da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, integrante do Projeto Madeira.
Um mês atrás, o progressista fora sentenciado por improbidade administrativa; segundo a Justiça, ele teria bancado evento privado com dinheiro público. O congressista já recorreu da condenção e aguarda o julgamento do recurso.
Termópilas
Passou batido, ainda, condenação proferida no âmbito da famigerada – e já esquecida – ‘Operação Termópilas’.
Foram sentenciados pela juíza de Direito Inês Moreira da Costa: Andressa Samara Masiero Zamberlan, ex- coordenadora de Administração e Finanças da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus/RO); Rômulo da Silva Lopes – afilhado do ex-governador Confúcio Moura (MDB) e ex-assessor especial do mesmo órgão; Mírian Spreáfico, ex-secretária titular da pasta; Rafael Santos da Costa, considerado “braço direito” do ex-presidente da Assembleia Legislativa Valter Araújo; e os empresários Júlio César Fernandes Martins Bonache e José Miguel Saud Morheb.
Morheb, relembrando, é o autor da célebre frase: “Propina não é desperdício, é investimento”. Concidentemente ou não, ele e outros empresários prosperavam no governo Confúcio, principalmente no primeiro mandato, enquanto “molhavam as mãos” de servidores (incluindo uma ex-secretária de Estado) nas pastas estaduais de Justiça e Saúde.
Mírian Spreáfico, ex-titular da Sejus/RO, também praticou conduta ímproba, pois não só foi conivente com a atuação dos servidores que recebiam dinheiro para beneficiar interesses do empresariado, como também recebia repasses financeiros de Bonache e Morheb.
De acordo com as provas, Rômulo da Silva Lopes, o tal afilhado do emedebista pré-candidato ao Senado, possuía trânsito livre dentro da Sejus/RO e em outros órgãos do Governo do Estado “em razão de proximidade com o então governador Confúcio Moura”.
Escândalo da ponte de Ji-Paraná
Outro esquema já esquecido pela população é o escândalo da ponte de Ji-Paraná, onde o ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/RO) Ezequiel Neiva, pré-candidato a deputado estadual pelo MDB, é acusado pelo promotor de Justiça Geraldo Henrique Ramos de participar de “trama ardilosa para roubar dinheiro público”.
Trecho emblemático da denúncia do MP/RO
Além de Neiva, diversas pessoas são acusadas de agir em conluio para desviar R$ 30 milhões dos cofres públicos do Estado de Rondônia. Os bens de todos os envolvidos foram bloqueados pelo Poder Judiciário.
Na última terça-feira (22), a Justiça indeferiu pedido do ex-diretor do DER/RO.
Ele solicitou à Justiça de Rondônia que fosse excluída ordem de penhora em conta bancária “sob fundamento de que apenas lhe é depositado valores a título de verbas salariais, o que é impenhorável”.
A magistrada responsável pela análise, no entanto, negou o pleito.
“Ocorre que a parte apesar de alegar que recebe apenas verbas de natureza salarial em sua conta, deixou de apresentar extrato bancário para comprovar suas alegações”, pontuou.
Fato é que o pandemônio estabelecido abriu alas a agentes e ex-agentes públicos para que desfilem inocência e desfaçatez ao maior estilo “não é comigo”, principalmente agora em ano de eleição. O povo, embora sofra desnorteado por ora, não pode esquecer as causas de seu sofrimento.