Folha de São Paulo – Com o peso do sobrenome, pré-candidatos buscam votos para as eleições deste ano
João Pedro Pitombo
SALVADOR
Fernando, João, Antonio, Otto, Rodrigo, Mosiah, Danielle, Marcelo e Marcello são promessas de votos nas disputa por uma vaga no legislativo nas eleições deste ano. Sem os sobrenomes, certamente teriam dificuldade para se eleger. Mas eles são filhos de prefeitos, senadores e ex-governadores e carregam sobrenomes como Richa, Campos, Crivella e Collor de Melo.
Pelo menos nove filhos de políticos tradicionais estreiam urnas disputando vagas na Câmara dos Deputados e em Assembleias Legislativas. Com o peso do sobrenome, afiam suas armas para a briga eleitoral e já percorrem seus estados em busca de votos.
Filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e bisneto do também ex-governador Miguel Arraes, João Campos é a principal aposta do PSB de Pernambuco para renovar sua bancada na Câmara dos Deputados.
Ele vem sendo preparado para a disputa desde que a morte do pai, na campanha presidencial de 2014. Assumiu a chefia de gabinete do governador Paulo Câmara (PSB) em 2016 e, desde que deixou o cargo em abril deste ano, visita cidades do interior e bairros da periferia do Recife em ritmo de maratona.
“João representa a continuidade e renovação. É uma aposta de futuro do nosso partido”, afirma o presidente do PSB de Pernambuco, Sileno Guedes.
Já na disputa para a Assembleia Legislativa de Pernambuco, a novidade é Antonio Coelho (DEM), 20, filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB). Este será o terceiro filho do senador a entrar na política: Fernando Filho (DEM) é deputado federal e Miguel Coelho (PSB) é prefeito de Petrolina.
No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella Filho (PRB), 33, é a aposta partido para a Câmara dos Deputados. Com o apoio do pai, prefeito da capital, deve ter forte inserção no eleitorado ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.
Outra pré-candidata a deputada que aposta no segmento evangélico é Danielle Ditz da Cunha (MDB), filha do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Ela tem se movimentado em antigos redutos eleitorais do pai, hoje preso em Curitiba, onde cumpre pena no âmbito da Operação Lava Jato.
No Paraná, Marcello Richa é a principal aposta do PSDB na disputa por uma cadeira na Assembleia Legislativa. Ele é filho do ex-governador Beto Richa e neto do ex-governador José Richa.
Para o cientista político Joviniano Neto, professor da Ufba (Universidade Federal da Bahia), a candidatura de filhos de políticos realça uma tradição da política brasileira de partidos que não são orgânicos e não têm base social. E vai na contramão dos movimentos recentes que pregam renovação nos quadro políticos.
Assim como João Campos, em Pernambuco, outros filhos de políticos são potenciais campeões de votos em estados como Bahia e Alagoas.
Caso consigam serem os mais votados de seus estados, repetirão o feito de outros membros de clãs políticos tradicionais que foram campeões de votos já na estreia, caso de Aécio Neves (PSDB), mais votado em Minas em 1986, e ACM Neto (DEM), que teve mais de 400 mil votos em sua primeira eleição em 2002.
Filho do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTC), Fernando James (PTC), 38, disputará uma cadeira de deputado federal em Alagoas e tentará fazer com que a família Collor volte à Câmara depois de três décadas.
Na Bahia, Otto Alencar Filho (PSD), 40, é a principal novidade na disputa por uma cadeira na Câmara. Ele diz que optou por concorrer um mandato a pedido não do pai, o senador Otto Alencar (PSD), mas de colegas do partido.
“Aceitei porque vejo a política como uma missão”, diz o pré-candidato, que terá a seu favor uma forte máquina partidária com 90 prefeitos de cidades do interior do estado.
No Ceará, Rodrigo Oliveira (MDB), 29, é a aposta do pai, o senador Eunício Oliveira (MDB), para uma vaga na Câmara. Terá como adversário outro nome de família tradicional do estado: Mosiah Torgan (DEM), 38, filho do vice-prefeito de Fortaleza Moroni Torgan (DEM).
As candidaturas preocupam tanto adversários quanto aliados. Entre os aliados, o principal receio é que os filhos de políticos tenham preferência na divisão do bolo do fundo eleitoral. Com as novas regras de financiamento eleitoral, os dirigentes partidários terão mais poder e controle dos recursos para bancar as campanhas.
“Com campanha curta e dinheiro na mão dos caciques, será uma eleição de pouca renovação. Tem vantagem quem está no jogo. E os filhos de políticos já nasceram no jogo”, diz Joviniano Neto.
Nove filhos de políticos tradicionais estreiam nas urnas
Alagoas
Fernando James (PTC), pré-candidato a deputado federal, é filho do senador e ex-presidente Fernando Collor (PTC)
Bahia
Otto Alencar Filho (PSD), cujo pai é o senador e ex-vice-governador Otto Alencar (PSD), tentará a vaga de deputado Federal
Ceará
Rodrigo Oliveira (MDB), pré-candidato a deputado federal, é filho do presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB)
Mosiah Torgan (DEM) é filho do vice-prefeito de Fortaleza Moroni Torgan (DEM) e pré-candidato a deputado federal
Paraná
O filho do ex-governador Beto Richa (PSDB), Marcello Richa (PSDB), é pré-candidato a deputado estadual
Pernambuco
João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos, deve concorrer ao cargo de deputado federal
Antonio Coelho (DEM), filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), é pré-candidato a deputado estadual
Rio de Janeiro
Marcelo Crivella Filho (PRB), cujo pai é o prefeito Marcelo Crivella (PRB), deve ser candidato a deputado federal
Danielle Dytz (MDB), filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB), deve ser candidata a deputada federal