Quem sabe um pouquinho da tradição nordestina, ontem acendeu fogueira ou lembrou-se disso.
180 Graus, por Oscar de Barros
O velho Nordeste seguiu parte de suas origens (a europeia). Uma antiga tradição pagã daquele povo celebrava com o fogo o solstício de verão. Pouco a pouco, na Idade Média, a fogueira tornou-se um atributo da festa de São João Batista.
No catolicismo conta-se que este costume de acender fogueiras tem suas raízes em acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Para avisar Maria sobre o nascimento de São João Batista e assim ter seu auxílio após o parto, Isabel teria de acender fogueira sobre um monte.
Quem sabe um pouquinho da tradição nordestina, sabe que hoje é dia de São João Batista.
São João Batista nasceu em Aim Karim, cidade de Israel que fica a 6 quilômetros do centro de Jerusalém. Seu pai era um sacerdote chamado Zacarias. Sua mãe foi Santa Isabel, que era prima de Maria Mãe de Jesus. São João Batista foi consagrado a Deus desde o ventre materno. Em sua missão de adulto, ele pregou a conversão e o arrependimento dos pecados manifestos através do batismo.
A mãe de João Batista, Isabel, era idosa e nunca tinha engravidado. Todos a tinham como estéril. Mas, então, o anjo Gabriel apareceu a Zacarias e anunciou que Isabel teria um filho e que este deveria se chamar João.
Nesse mesmo tempo, o anjo apareceu também a Maria e anunciou que ela seria a mãe do Salvador. Então, Maria foi visitar Isabel, pois o anjo lhe havia dito que Isabel estava grávida. Quando Maria chegou e saudou Isabel, João mexeu no ventre da mãe e Isabel fez aquela maravilhosa saudação a Maria santíssima: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! De onde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? (Lc 1-41-43).
Quando São João Batista ficou adulto, percebeu que chegara sua hora. Então, foi morar no deserto para rezar, fazer sacrifícios e pregar para que as pessoas se arrependessem. Vivendo uma vida extremamente difícil e com muita oração, passou a ser conhecido como profeta, homem enviado por Deus. Ele sempre anunciava a vinda do Messias. Batizava a todos que se arrependiam e multidões sempre iam ver suas pregações no rio Jordão.
São João Batista é o primeiro mártir da Igreja, e o último dos profetas. Sua festa é celebrada desde o começo da igreja, no dia 24 de junho. Ele é venerado como profeta, santo, mártir, precursor do Messias e arauto da verdade, custe o que custar.
Quem sabe um pouquinho da tradição nordestina, sabe que muitos povos e cultura “fizeram o Nordeste brasileiro”. Aqui há a influência de elementos culturais portugueses, espanhóis (da península Ibérica teria vindo a dança de fitas), chineses (onde teria surgido a manipulação da pólvora), franceses (dança marcada, característica típica das danças nobres), e africanos (congadas, capoeira, maracatu).
O Nordeste e sua cultura passaram por transformações imensas em meados do século XX. Nesta ocasião um nordestino, pegou todas as tradições religiosas, musicais e de danças e as transformou em cultura de massa. Seu nome: Luiz Gonzaga!
O cantor da pequena cidade de Exu no semiarido brasileiro sintetizou no ritmo baião as expressões do povo nordestino. Este povo se reconhece nas músicas de Luiz Gonzaga. Como ele nasceu em 13 de dezembro o santo do dia, Santa Luzia fez o milagre de reproduzir “Luizes Gonzagas”. Há uma seleção brasileira (ou seria nordestina?) de sanfoneiros, compositores e cantores netos de Januário.
Do surgimento de Luiz Gonzaga até aqui as festas juninas não haviam sido profanadas. Os súditos de Luiz Gonzaga haviam mantido a tradição do forró de pé. Mas há algo de diferente acontecendo. As festas juninas de uns anos para cá foram tomadas de conta pelo “sertanejo”. Aqueles que davam sustentação às tradicionais festas massificadas por Gonzagão estão no banco de reservas do jogo da musica brasileira.
Que me desculpem Michel Teló, Maiara e Maraisa, Marilia Mendonça, Gustavo Lima e outros.
Gonzaguinha disse: “eu fico com a pureza das crianças…”
E eu digo: eu fico com a poesia, o forró, a alegria e autenticidade de Luiz Gonzaga, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Trio Nordestino, Os 3 do Forró, Flavio José, Nando Cordel, Santana, Ton Oliveira, Elba Ramalho, Alcymar Montyeiro, Falamansa, Jorge de Altino, Petrucio Amorim, Aciolly Neto, Antonio Barros, Ceceu, Assisão, Marines, Genival Lacerda, Osvaldinho, Eliane, Cremilda, Anastácia, Alcimar Monteiro, Pinto do Acordeon, Maciel Melo, Biliu de Campina, Lucy Alves, Flávio Leandro, Arlindo dos 8 Baixos, Fubá de Itaperoá….e tantos outros.
Quem não sabe um pouquinho da tradição nordestina, não sabe que nasci na Malhada, povoado rural da rural Bocaina, do rural Piauí.
Quem não sabe um pouquinho da tradição nordestina, não sabe que meu pai se chamava João e ascendia fogueiras.
ORAÇÃO DE SÃO JOÃO BATISTA
“Ó, glorioso São João Batista, príncipe dos profetas, precursor do divino redentor, primogênito da graça de Jesus e da intercessão de sua santíssima mãe, que fostes grande diante do Senhor, pelos estupendos dons da graça de que fostes maravilhosamente enriquecido desde o ceio materno, e por vossas admiráveis virtudes, alcançai-me de Jesus, ardentemente vos suplico, que me dê a graça de o amar e servir com extremado afeto e dedicação até a morte. Alcançai-me também, meu excelso protetor, singular devoção a Virgem Maria Santíssima, que por amor de vós foi com pressa à casa de vossa mãe Isabel, para serdes livre do pecado original e cheio dos dons do Espírito Santo. Se me conseguirdes estas duas graças, como muito espero de vossa grande bondade e poderoso valimento, estou certa de que, amando até a morte a Jesus e a Maria, salvarei minha alma e no céu convosco e com todos os anjos e santos amarei e louvarei a Jesus e a Maria entre gozos e delícias eternas. Amém.”