A História de Cajazeiras tem perfume de mulher

A História de Cajazeiras tem perfume de mulher

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Do Almanaqueiras, por José Antonio Albuquerque – Existem indícios que a formação social de Cajazeiras foi eminentemente matriarcal, fugindo totalmente do padrão da época que possuía Raízes profundas de um exacerbado patriarcado.

Que razões nos levam a levantar esta hipótese? A história nos ensina que os fundadores de Cajazeiras foram Vital de Sousa Rolim e Ana Francisca de Albuquerque, conhecida por Mãe Aninha, figura muita venerada por todos os Cajazeirenses.

Mas o que levaria a cidade de Cajazeiras esquecer a figura paterna de Vital e elevar a de Ana? Talvez, a explicação se dê pelo fato de ter sido ela, após a morte de Vital, a assumir os encargos da sua numerosa prole, os negócios da família e da fazenda, além de se colocar no centro de todas as decisões tomadas em Cajazeiras pelos seus filhos, netos e parentes.

A figura matriarcal de Ana e sua ascendência na sociedade cajazeirense se tornam mais visível e exuberante após a chegada de seu filho, Ignácio de Sousa Rolim, ordenado sacerdote e de ter se constituído na figura central do povoado ao construir uma capela, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, para que seu filho pudesse ter um local para celebrar missas e pregar o evangelho.

Ana recebeu o “título” de “Mãe” por ter assistido, através de suas benditas mãos, aos partos das mulheres cajazeirenses, fato que a tornou ao longo da história, numa figura com poder quase absoluto de todas as ações a serem feitas no povoado.

Outra “influenciadora” mulher foi Idalina Albuquerque Cartaxo Matos, conhecida como Sinhazinha, nascida em Cajazeiras no ano de 1877 e foi casada com o Coronel Joaquim Matos Rolim, homem progressista e responsável por levar o nosso algodão para Amsterdam, amante da música (tocava órgão), fato que o fez trazer da Alemanha o primeiro piano de Cajazeiras, transportado de Mossoró até Cajazeiras em um carro de boi, cuja viagem durou cerca de quatro meses. Este piano ainda existe e se encontra na residência de Pepé Pires, filho de Ica e Waldemar Pires.

Criou a Escola de Música Santa Cecília, em 1918, que funcionou em sua própria residência sob os cuidados de Idalina, onde as moças da sociedade cajazeirense aprenderam a tocar piano e bandolim. Comentava-se que Idalina mandava, casava e batizava na vida do Coronel Matos, tido e havido como um dos homens mais fortes da vida pública e econômica de Cajazeiras.

Outro fato que merece destaque na vida deste casal foi o de que o Coronel Matos pediu ao governo do estado uma professora para a Escola de Música, no que foi atendido, e foi encontrada no Recife, de onde partiu de navio para Fortaleza, via Lavras, e de lá veio a cavalo.

Idalina foi no período de 1918 a 1940 a Primeira Dama de Cajazeiras e por ser esposa do prefeito e de um dos homens mais ricos da cidade, dono da Usina Santa Cecília, se envolvia com os operários e prestava assistência aos mais pobres.

Sinhazinha Matos era o símbolo da mulher forte, enérgica e determinada e sempre esteve por trás das grandes decisões políticas que seu marido tomava, sem esquecermos que foi a principal incentivadora do desenvolvimento cultural de Cajazeiras. Faleceu em 1957.

Dentre as estrelas cajazeirenses, no setor educacional, ressalto a figura de Vitória Bezerra de Melo, responsável pelo ensino de várias gerações, e com ela aprenderam as primeiras lições, em sua residência na Rua Padre Rolim, cuja escola recebeu o nome de “Mãe Aninha”.

Em 13 de agosto de 1914 foi nomeada interinamente para o cargo de adjunta da Cadeira Pública de ensino primário do sexo feminino da cidade de Cajazeiras e em 1934 tornou-se efetiva da Cadeira Rudimentar Urbana Mista, da escola Comandante Vital.

A professora Vitória Bezerra teve uma vida dedicada ao ensino e exerceu o papel de educadora com muita autoridade, amor e carinho e foi responsável pelo futuro dos filhos de Cajazeiras, ao forjar o caráter da infância e da juventude de nossa terra.

Outra mulher, dentre inúmeras, filhas das terras cajazeirenses, que nutro uma grande admiração é Marilda Sobreira Rolim, pelo seu passado de lutas, pelo seu destemor, pela sua coragem, por nunca ter tido medo de nada.

Marilda é uma legenda que não desapareceu e marcou a História das fortes mulheres de Cajazeiras. Polêmica, irreverente e no costume de ouvir em casa a história da invasão do Cangaceiro Sabino Gomes, em cujo episódio, seu pai Epifânio Sobreira, foi atingido por uma bala, ter e andar com um revólver na cintura era mais do que normal.

Por outro lado era uma defensora intransigente do patrimônio da família, principalmente o que reverenciava e tinha valor histórico, a exemplo do Casarão, onde hoje está instalada a Secretaria de Cultura e a reconstrução onde foi a capelinha do Padre Rolim, no Sítio Capoeiras. Em vida escreveu um livro sobre Cajazeiras, que faz parte do inventário, que ao ser concluído, esperamos que família faça a sua publicação.

Costuma-se dizer que as grandes decisões que foram tomadas no passado, pelos coronéis, no que se relacionava às questões políticas, só eram decididas no quarto de dormir, após as rodadas de conversas na sala de visitas dos imponentes casarões de Cajazeiras.

As mulheres, sempre, ao longo da história, perfumaram a vida de Cajazeiras, desde Mãe Aninha até os atuais dias, muitas se destacaram na vida social, religiosa, econômica, política, cultural e educacional.

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