Dados mostram que representatividade feminina no Poder Legislativo é baixa
No DM, por Marcus Vinícius Beck – Nos últimos anos, a sociedade brasileira vem assistindo o grito das mulheres que clamam por equiparar a desigualdade de gênero. Em diferentes esferas, do mundo esportivo ao corporativo, há uma luta pela reivindicação dos espaços para que direitos conquistados ao longo desses últimos anos pelo movimento feminista sejam garantidos. Mesmo com todas as conquistas, a caminhada para que elas tenham de fato representatividade igual aos homens ainda será longa.
Levantamento feito pelo Diário da Manhã revela que a presença feminina no Poder Legislativo é pequena. Dos 513 deputados, apenas 54 são mulheres, ou seja, só 12,5% do total. No Senado, das 81 cadeiras, 13 são ocupadas por representantes do sexo feminino, o que configura 16,4%. Enquanto isso, o Legislativo goiano conta com apenas quatro mulheres entre os 41 deputados, cujo percentual atinge 8%. Para o pleito ao Palácio Pedro Ludovico, concorre Kátia Maria (PT), Erenilda de Assis (PSol) vice de Wesley Garcia, Bruna Venceslau (PCB) vice de Marcelo Lira e Raquel Teixeira (PSDB), vice de José Eliton. Ao Senado, disputam Lúcia Vânia (PSB), Geli Sanches PT) e Magda Borges (PCB).
Em março, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou que 52% do eleitorado brasileiro é formado por mulheres, representando mais de 77 milhões de pessoas. Mas na prática essa estatística é inexpressiva. Isso porque o número de candidatas é desproporcional à quantidade de representantes do sexo feminino atuando na política. Somente em 2012 as candidaturas femininas alcançaram 30%. Para se ter uma ideia, nas eleições de 2016 31% dos concorrentes aos cargos legislativos e executivos eram mulheres.
Anteontem, durante apresentação da Plataforma Mulheres na Política, apresentada aos candidatos ao governo do estado pelo Conselho Estadual da Mulher (Conem), a candidata ao governo de Goiás pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Kátia Maria disse que não enxerga a vida das mulheres apenas pelo viés do palanque eleitoral. Em sua fala, a petista criticou a falta de estrutura das 22 Delegacias da Mulher existentes no Estado e lembrou o aumento de 15% no número de feminicídio em Goiás em relação ao ano passado.
“Goiás está em segundo lugar no ranking de feminicídios por estado e não se espantem se o estado passar para o primeiro lugar no ano que vem em função desta falta de estrutura e de políticas públicas efetivas e afirmativas para as mulheres”, diz a candidata. Kátia afirmou que é importante tê-las comprometidas em pôr em prática políticas públicas efetivas para reduzir essa estatística. “Nós temos que emancipar nossas mulheres do ponto de vista psicológico, emocional, financeiro e social”, declara a candidata, que estava acompanhada pela deputada estadual Adriana Accorsi (PT).
Candidata a deputada estadual pelo Avante, a socióloga Aava Santiago afirmou ao DM que o desafio enfrentado pelas mulheres na política é o mesmo que se vê em outros setores da sociedade. Ela disse que, caso o parlamento contasse com maior presença feminina, os índices de corrupção poderiam diminuir, além de gerar maior estímulo às políticas de inclusão e justiça social. Santiago argumentou ainda que essa realidade chegou a ser experimentada em alguns países da Europa, mas que no Brasil ainda é uma realidade distante.
“As mulheres precisam provar o tempo todo que tem competência, que mereceram, que são capazes de ocupar esses espaços”, diz Santiago, que foi presidente do Conselho Estadual da Juventude (Conjuve-GO) na gestão de Marconi Perillo (PSDB) à frente do Palácio Pedro Ludovico Teixeira. “Porém, mais mulheres no parlamento representa mais políticas de inclusão, mais políticas públicas e, até mesmo, de acordo com alguns estudos, maior efetividade no combate à corrupção”, conclui a socióloga.
CARGOS ESTRATÉGICOS
Para a cientista política Lays Vieira, ocupar cargos estratégicos “por si só” não vai ser o fator determinante para equiparar a desigualdade entre homens e mulheres. “Creio que cargos eletivos não são a única forma para atenuar esse problema, pois o machismo, o racismo e outros preconceitos estão arraigados em nossa sociedade”, explica a estudiosa. “A visão da política como lugar de corrupto ajuda a população a não se preocupar se mulheres ocupam determinados cargos ou não”.
Vieira afirmou que, em termos estruturais e culturais, o sistema capitalista é um dos fatores que acentuam posturas e práticas machistas. Disse que a direita nos últimos anos de apropriou das pautas identitárias para garantir mulheres ocupando o posto de vice em cargos executivos nas últimas eleições. E lembrou que a Divisão Sexual do Trabalho consolidou a visão discriminatória acerca da presença feminina. “Não existem grandes incentivos para que as mulheres entrem na política”, diz a cientista política.
Professor da Universidade Nacional de Brasília (UnB), o cientista político Luis Felipe Miguel explicou a política ao longo da história foi “um território masculino”. No Brasil, argumentou o especialista, a presença das mulheres nos parlamentos, nos gabinetes, nos ministérios e em outros cargos ainda é minoria. Assim, a ausência delas sempre foi visto como algo natural e provocado pela predileção “pelo espaço doméstico, o desinteresse pelo negócio público ou a racionalidade inferior”.
“A política continuava sendo percebida, por homens e mulheres, como um espaço masculino, o que inibia a participação delas. Além disso, as mulheres tinham – e têm – menos acesso aos recursos cruciais para a participação na política formal, notadamente o tempo livre, dada a divisão com o trabalho doméstico”, finaliza o professor da UnB, em pesquisa sobre Determinantes de Gênero, Visibilidade Midiática e Carreira Política no Brasil.
A política continuava sendo percebida, por homens e mulheres, como um espaço masculino, o que inibia a participação delas”
Luis Felipe Miguel