Luciana Oliveira,
Nossa! É impressionante quando olho para trás e percebo que, em tão pouco tempo, pouquíssimo tempo, na realidade, passei de fã e leitor incondicional de seus textos à condição de amigo.
Essa é, provavelmente, uma das maiores honras que tive a oportunidade de usufruir nessas quase três décadas que ando a esmo pelas maltratadas planícies rondonienses.
Veja, não é puxação de saco deliberada, oras! Eu tenho meus motivos e, a partir daqui, pretendo explicá-los.
Uma das melhores qualidades que um ser humano pode conservar é a coragem. Ah, a coragem…
Há três frases distintas mencionadas por figuras diferentes a respeito do inestimável substantivo. Aliás, coincidência ou não, substantivo feminino, diga-se de passagem.
A visão aristotélica expressa que “A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras”. Isso tem um quê de Luciana que vou te contar, viu?
Já Confúcio, o pensador chinês, não o ex-governador que filosofa sobre a “arte de socar” (https://goo.gl/MvgHcg), entende: “Saber sobre o que é correto e não fazer é falta de coragem”. Há uma certa ativista virtual que se associa facilmente ao conceito confucionista.
Por fim, Mark Twain, o norte-americano autor de Tom Sawyer – livro que marcou minha infância e aguçou minha fome pela leitura – é ainda mais pontual: “Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo”.
E é exatamente no último item que a minha combalida memória entra no modo de convalescença.
Me recordo como se fosse hoje a sua luta específica contra a censura; aquela batalha monstruosa que travou em nome de todos nós cidadãos – e também comunicadores – em prol da liberdade de expressão e contra os grilhões impostos rotineiramente à atividade jornalística, principalmente aos profissionais fora das corporações e conglomerados midiáticos.
Aquilo ali me deixou indignado, puto da vida! Mas foi a sua reação diante do problema que me contagiou.
Naquele momento, passei a sentir um décimo da sua intrepidez e troquei os papéis mentalmente para tentar compreender como me sentiria se estivesse no seu lugar, sendo ofendido, censurado e processado por defender uma causa social.
Não tive dúvidas. Publiquei e assinei, à ocasião, o artigo “O preço da indignação e as aulas de insensatez e ódio: censura quer calar mais uma jornalista à força” (https://goo.gl/bUeh3C).
Já me alonguei bastante, porém faço questão de parafrasear trecho da opinião que apresentei à época:
“Diferentemente de outros criticados que também levaram na fuça e com certeza receberam o recado, um professor universitário processou a jornalista ao ser exposto após bradar, entre outras frases, a seguinte assertiva no WhatsApp:
‘Muçulmano é a desgraça que assola a humanidade’.
A ação judicial é retaliação óbvia à antenada repórter que, estritamente arvorada a fatos e sem a pressão e o temor que costumam rondar redações quando o assunto é religião e fé, agiu corretamente ao eviscerar o flagelo.
Com maestria eficaz e a sutileza de quem desossa um frango sem mexer na carne, desnudou o cidadão, tirando-o da zona de conforto. A situação ganhou repercussão nacional, talvez tenha rodado o Planeta Terra, quem sabe?”
Pois é. Hoje, na minha humilde concepção, sua figura representa muito bem o vocábulo coragem. E o que você fez nessa campanha veio para arrematar de vez a sua bravura.
Parabéns por jogar limpo, pelas andanças, pelo contágio – das pequenas ondas à formação do banzeiro. A caminhada encerra agora com a vitória da estrondosa pororoca causada pelos beradeiros mais fervorosos e engajados do Estado.
Bora lá?
Vinicius Canova