Não imagino cena mais asquerosa e deprimente.
Ato formal de Jair Bolsonaro como presidente eleito: evento comemorativo dos 30 anos da Constituinte de 1988.
No palco…
Um presidente que nega a ditadura militar e promete ‘enquadrar’ a livre manifestação do pensamento e acabar com todo tipo de ativismo.
Com ele, vários personagens de um golpe contra a CF, contra a democracia, em 2016.
Nunca na minha história de vida, imaginei cena tão dantesca.
“A canalha se ajuntou de novo, a canalha!
Em torno da mesma mesa e toalha
e acanalhando-se outra vez
acanalhou-nos a todos, a canalha!
A canalha é ávida e inquieta, a canalha!
Tem a audácia do corvo e a avidez da gralha,
com bico de urubu fuça a mortalha,
a canalha não larga o osso, a canalha!
No jogo do faz-desfaz, a canalha
nos mantém no fio da navalha,
vive brincando com o fogo
e sai rindo da fornalha, a canalha!
Achincalha tudo o que toca, a canalha!
E ela nunca tarda e nunca falha,
sabe onde semeia e amealha,
mistura o trigo com a palha, a canalha!
Trabalha em silêncio, a canalha!
E pode ter cara de jovem ou grisalha.
De novo vão fazer o banquete
e nos jogar a migalha, a canalha!
A canalha não tem ética, a canalha!
Mostra seus brazões e medalhas,
guarda os cofres na muralha
e faz da história uma bandalha, a canalha!
Diante dessa canalha
não sei se é melhor falar direto
ou se a metáfora atrapalha.
Bato no meu poema ou cangalha
e denuncio à minha gente a gentalha.
Pudesse fugir, fugia
para Pasárgada, Maracangalha.
Diante dessa canalha
valha-me Deus!
e o próprio demônio valha!”
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA