No Balaio do Kotscho – Quinze dias após a sua vitória nas urnas, para o presidente eleito Jair Bolsonaro a campanha ainda não acabou.
Pelas suas manifestações em entrevistas e vídeos, o capitão reformado deixa claro que a guerra contra os “vermelhos” está só começando.
“Vermelhos”, para o novo presidente, quer dizer todos os que não votaram nele, ou seja, quase metade do país que foi às urnas.
Foi exatamente essa mesma guerra que ele moveu nos seus 28 anos como deputado federal, combatendo o PT e os movimentos sociais, e não é agora que ele vai mudar.
Quem votou no capitão deveria saber disso e não pode agora reclamar.
Para manter viva a campanha na mídia nas redes sociais, conta com a ajuda do filho Eduardo Bolsonaro, o “01”, deputado federal mais votado do país.
Em entrevista ao Estadão no domingo, o filho defendeu a criminalização dos movimentos sociais e do “comunismo” (como se isso ainda existisse), já falando em prender 100 mil inimigos para começo de conversa.
Acabar com ministérios da área social, abrir a “caixa preta” do BNDES, perseguir professores, “tratorar” a oposição, como quer o filho deputado, e fazer uma devassa da diplomacia são apenas os primeiros movimentos desencadeados pela nova ordem.
Mensagens publicadas na seção de leitores dos jornais e na área de comentários dos sites e portais na internet mostram que a estratégia é muito bem sucedida: são cada vez mais radicais as milícias mobilizadas para não deixar pedra sobre pedra.
Como a oposição sumiu, eles se sentem livres para avançar sobre todos os direitos e conquistas dos trabalhadores nos últimos 50 anos.
Como o próprio Bolsonaro previu durante a campanha, estamos retrocedendo 50 anos no tempo, de volta à república da farda e da toga que faz e desfaz presidentes, com ou sem eleição.
A guerra permanente serve também para escamotear a ausência de qualquer plano de governo, que vai sendo montado no improviso, a conta gotas, no varejão da velha política.
O único critério adotado para a escolha do novo ministério, um saco de gatos exóticos, é o da lealdade ao “projeto” do novo presidente, que nem ele sabe qual é.
Até agora, Bolsonaro só disse o que não quer mais ver por aqui, mas não deixou claro o que realmente pretende fazer com o país a partir de 1º de janeiro.
Está mais preocupado em detonar as “antigas estruturas” com os mesmos métodos da ditadura militar, para depois ver o que fará para colocar no lugar dos escombros.
Em nome da cruzada contra a corrupção, já nomeou o xerife Sergio Moro, que terá como colega de governo Onyx Lorenzoni, deputado do DEM, réu confesso de receber caixa dois.
Além dele, o DEM já ganhou também o Ministério da Agricultura e pode ganhar mais um, o da Saúde.
Com a imprensa brasileira já aceitando tudo como fato consumado, e tratando com a maior fleugma a formação do ministério bolsonariano, como se estivesse comentando o novo gabinete do governo inglês, a unica oposição a Bolsonaro no momento vem da mídia internacional, preocupada com o destino da democracia brasileira.
Não se trata, ao contrário do que escrevem os bolsonaristas, de torcer a favor ou contra o novo governo, de ser otimista ou pessimista, mas apenas de constatar os fatos que vão se sucedendo em rapidez espantosa, rumo ao desconhecido.
Faltam apenas 50 dias para a posse e já dá para imaginar o que virá depois quando eles assumirem de fato o poder.
Gostaria muito de estar enganado, mas pelo que deu para ver até agora é tudo muito assustador.
Vida que segue.