Mangueira vai levar à Avenida heróis negros pouco conhecidos

Mangueira vai levar à Avenida heróis negros pouco conhecidos

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Em 1770, uma escrava piauiense escreveu uma das mais antigas cartas de denúncia de maus-tratos contra os negros que se tem registro no Brasil. O texto, entregue ao governador da província do Piauí, resultou na libertação de inúmeros escravos e fez com que essa mulher, após a morte, recebesse o título de advogada pela OAB do Piauí.

Essa é a trajetória de Esperança Garcia, uma das personagens que serão retratadas pela Mangueira no próximo carnaval.

A escola levará à Avenida o lado B da história do Brasil, de heróis pouco conhecidos, às vezes esquecidos da narrativa oficial. Muitos deles negros, o que reforça a importância do Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, com eventos como o cortejo da Tia Ciata.

Além de Esperança Garcia, o carnavalesco Leandro Vieira representará em alas e alegorias figuras como Dandara, mulher de Zumbi e guerreiro da luta contra a escravidão; Luísa Mahin, líder do levante dos negros malês em Salvador; e Luiz Gama, advogado, jornalista e poeta abolicionista.

— É muito pertinente quando a Mangueira se coloca na condição de narrar a história não contada das lutas negras. A minha intenção, com isso, é aproveitar esse momento de discussão sobre a importância da representatividade para apresentar ao grande público os personagens que não tiveram a notoriedade que deveriam ter. O que o enredo quer fazer é despertar a consciência — afirma Leandro.

No caso de Esperança Garcia, o presidente da ONG Educafro, Frei David, lembra que a então escrava percebeu que várias pessoas eram escravizadas de forma ilegal, ferindo leis internacionais.

No caso de Esperança Garcia, o presidente da ONG Educafro, Frei David, lembra que a então escrava percebeu que várias pessoas eram escravizadas de forma ilegal, ferindo leis internacionais:

— Por ser uma pessoa sábia, fazia petições ao governador do Piauí exigindo a libertação de escravos. E o governador libertou várias pessoas por isso. A história é tão forte que, agora, em 2017, a comunidade negra do Piauí apresentou para a OAB do estado uma pesquisa superconsistente e solicitou o título de advogada a Esperança Garcia. E eles concederam, post mortem. Naquela tempo não existia no Brasil faculdade de Direito. É assim, então, que ela passou a ser a advogada mais antiga do país

Já Luísa Mahin, que será representada na Sapucaí por Leci Brandão, nasceu na Costa da Mina, na África, no início do século 19. Ela esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia na época. Participou da Revolta dos Malês (1835) e da Sabinada (1837-1838). Caso o levante dos malês tivesse sido vitorioso, Luísa teria sido reconhecida como Rainha da Bahia.

Alcione vai representar Dandara

Se ainda ronda no barracão mangueirense o mistério sobre a homenagem à vereadora Marielle Franco, citada no samba-enredo, não há dúvidas quanto ao espaço reservado a Chico da Matilde: uma alegoria. Na visão de Leandro Vieira, o personagem ficou à sombra da Princesa Isabel, reconhecida como heroína pela assinatura da Lei Áurea.

O enredo da escola reservou ainda espaço para Zumbi dos Palmares, um dos pioneiros na resistência contra a escravidão, líder do Quilombo dos Palmares. Já Dandara, mulher de Zumbi, líder de tropas guerreiras no quilombo, será representada pela cantora Alcione. Outros devem aparecer em alas. É o caso do casal Mariana Crioula e Manoel Congo, líderes de uma revolta que culminou com a fuga de mais de 300 escravos de Vassouras.

Fonte: Extra

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