Pesquisadora de Harvard, Moira Weigel está escrevendo um livro sobre a história do politicamente correto, a conspiração do“marxismo cultural” e a relação dos movimentos de direita com a filosofia na era das redes sociais.
9 Perguntas Para Weigel
1. Qual é sua definição de politicamente correto?
Para mim, politicamente correto é um sinônimo de educação. Essa é minha definição. Para outras pessoas, críticas do conceito, politicamente correto quer dizer algo ruim, uma espécie de censura que impede que as pessoas falem livremente sobre todos os assuntos. O curioso é que nenhuma figura pública importante se descreve como politicamente correta. O termo tem alto peso político, tanto para quem o defende como para quem o critica.
2. Qual é a origem do termo?
O termo ganhou força nos Estados Unidos num momento de discordância nacional, no final dos anos 80, início dos 90. Antes disso, era usado por negros ativistas, pessoas de esquerda, feministas e membros do movimento estudantil. É importante salientar que, quando ainda era um termo usado por minorias, tinha uma conotação irônica. As pessoas chamavam umas às outras de politicamente corretas como uma piada, para chatear quem agia com muita retidão ou quem se dava muita importância. Depois, nos anos 90, deixou de ser um termo usado apenas por minorias. Foi quando a nova direita passou a usar o termo para criticar principalmente professores e acadêmicos em universidades, dizendo que eles eram radicais em suas falas no campus e que quem não seguia essas regras era hostilizado e punido. Tinha uma implicação política, os professores eram acusados de ensinar ideias radicais e de esquerda, que poluiriam a mente da juventude americana. Outro termo que começou a ser usado foi “marxismo cultural”. Soube que Jair Bolsonaro e seus filhos o usam bastante no Brasil.
3. Usam muito também “marxismo cultural”.
O conceito de “marxismo cultural” veio da extrema-direita. Era usado, no começo, por nacionalistas brancos e negadores do Holocausto. A teoria, ou teoria da conspiração, do marxismo cultural ecoa direta e deliberadamente uma teoria que Adolf Hitler descreve no livro Minha luta. Segundo Hitler, com o fracasso do marxismo econômico, os intelectuais judeus estavam tomando a cultura ocidental a fim de destruí-la. Os nazistas chamavam isso de bolchevismo cultural.
4. Com o politicamente correto, algumas questões acabaram virando tabu?
Não. Realmente não acredito que o politicamente correto exista. Você pode perguntar: mas então a que as pessoas se referem quando usam esse termo? É à linguagem que usamos e aos cuidados que temos quando falamos para não ofender ninguém. O que existe são formas diferentes de diálogo, de discurso, à medida que a sociedade se desenvolve e diversifica. Se você olhar para as universidades, como a da Califórnia, por exemplo, vai ver que, em meados dos anos 80, a maioria dos estudantes era branca. Isso mudou. A diversidade aumentou. Quando isso acontece, a maneira como você fala também muda e você passa a se preocupar em não ofender os outros. Não existe nenhuma organização política secreta forçando as pessoas a falar de certa maneira. É importante lembrar que liberdade de expressão não quer dizer que uma pessoa pode sair por aí ofendendo as outras.
5. Por que, então, a maioria dos americanos tem a sensação de que o politicamente correto foi longe demais?
Não acho que seja isso. As pessoas gostam de ouvir o presidente americano, Donald Trump, falar contra o politicamente correto porque muitas não se sentem empoderadas, se sentem deixadas para trás pelo sistema econômico vigente, o que é verdade. Ver alguém quebrando as regras do sistema traz uma espécie de satisfação para essas pessoas.
Da Revista Época