Que as mulheres estão ocupando todos os espaços e mostrando sua potência em todas as áreas, da música à ciência, não é novidade. Mas a gente acha o quê? Pouco! Queremos mais – muito mais! As produções culturais já passam pelas mãos delas em todos os níveis e chegam ao Carnaval cada vez mais fortes. O empoderamento feminino, da produção à bateria dos blocos de rua, se mostra uma ferramenta única e necessária para os debates de gênero.
As organizações e atuações nos blocos já foram dominadas completamente por homens, mas vemos um crescente de mulheres surgindo com com novas propostas espalhadas por todo o Brasil. O assédio nas festas foi o grande estopim para falar da presença feminina no Carnaval – e seguiu como tema com campanhas lindas como a #CarnavalSemAssédio. Mas a representatividade e hierarquia no trabalho dentro dos blocos mostrou uma mudança de rumos.
Nada menos do que 36 blocos hoje são de produções femininas. Necessário começar pelo Ilú Obá De Min, de São Paulo, até pelo significado do próprio nome, vindo do Yorubá: Mãos femininas que tocam tambor para Xangô. O Ilú é uma associação sem fins lucrativos que tem trabalha com foco nas culturas de matriz africana e afro-brasileira e na mulher. Surgiu após vinte anos de pesquisa-ação desenvolvidas por suas dirigentes Beth Beli e Adriana Aragão, iniciando suas atividades em novembro de 2004.
O Ilú, que pela história, ações e maravilhosidade de seu desfile já merece destaque. Mas existem ainda outros bons e com muita bagagem, como o Bloco Nem Com uma Flor. Promovido pela prefeitura do Recife, o bloco sai há 17 anos para conscientizar os foliões sobre o fim da violência contra a mulher. Os outros surgiram nos últimos 10 anos, mas já mostram que vieram para ficar.
Estimulando também o aprendizado, alguns blocos investem em formação musical, como As Calungas, em João Pessoa, e As Batucas- Orquestra Feminina de Bateria e Percussão, em Porto Alegre. Já os politizados, que lutam contra a violência contra a mulher, reafirmaram sua força, como o Mulheres Rodadas, que acontece desde 2014 no Rio de Janeiro; o Filhas da Luta, de Macapá, que sai às ruas desde 2015; o Bloco Maria Vai com as Outras, há 8 anos nas ruas de Manaus; e o Bloco das Perseguidas, que surgiu em 2013, em Brasília.
Na contramão, o bloco feminista Bloco Bato Siririca, da cidade de Sobral, no Ceará, foi retirado dos festejos de 2018, mesmo após ser contemplado com edital e ficar classificado entre os blocos oficiais da cidade. O bloco saiu de forma independente e manifestou repúdio após o corte, que também gerou forte polêmica nas redes sociais.
Vamos à lista dos blocos femininos que saem em 2019 pelo Brasil:
São Paulo (SP)
O Ilú Obá De Min – Educação, Cultura e Arte Negra é uma associação paulistana, sem fins lucrativos, que tem como base o trabalho com as culturas de matriz africana e afro-brasileira e a mulher. Surgiu após vinte anos de pesquisa-ação desenvolvidas com variados grupos sociais por suas dirigentes Beth Beli e Adriana Aragão e iniciou suas atividades em novembro de 2004, tornando-se pessoa jurídica em 2006. É um dos cortejos mais lindos que se pode ver no Carnaval da cidade.
Quando? Sexta de Carnaval no Vale do Anhangabaú e Domingo de Carnaval
Esse é o terceiro ano que o bloco mais sapabi de São Paula mete o dedo no pré-carnaval oficial da cidade para fazer todo mundo dar volta e meia atrás do trio. O bloco Desculpa gosta de trocadilho, glitter e safadeza. Além da bateria, o bloco tem som comandado pelas DJs Sol Lima & Thaís Esmeraldo, Stefanie Dias & Marília Castelli, Elky Araujo & Sal Esaú, Grace Kelly e Renata Corr; e participação das Maravilhosas Corpo de Baile.
Quando? 23 de fevereiro, 15h, na Rua Augusta, entre as ruas Matias Aires e Fernando de Albuquerque
Bloco Siriricando é um bloco feito para mulheres que amam mulheres, onde o protagonismo é das minas lésbicas e bis e todes são bem vindes para curtir um carnaval divertido, seguro e confortável. Pelo terceiro ano, o Bloco bota o brejo na rua novamente, mostrando que as mulheres lésbicas e bis resistem com deboche e alegria e nenhum governo fascista vai estragar a nossa diversão.
Quando? 24 de fevereiro, 15h, na Praça Dom José Gaspar
Em março de 2000 nasceu o YAYARTES Bloco Carnavalesco Casa de Dona Yayá, dentro da União de Mulheres do Município de São Paulo. O grupo foi pensado para chamar a atenção para a Casa da Dona Yayá, desocupada desde a década de 60 com a morte de sua mais famosa moradora e caracterizada como patrimônio histórico desde a década de 70, e incentivar a discussão de seu uso pela comunidade. O bloco vem saindo às ruas todo domingo anterior ao domingo de Carnaval, desde que surgiu, no tradicional bairro do Bixiga, em São Paulo. Em seu trajeto, que inclui uma parada obrigatória na Casa de Dona Yayá, nascida Sebastiana de Mello Freire, de rica e influente família paulista, o bloco reaviva a memória da figura feminina emblemática de Dona Yayá, uma mulher à frente de seu tempo que cedo seria considerada insana e incapaz e confinada no casarão em que hoje funciona o CPC – Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo, espaço aberto ao público desde 2004 para atividades como visitas, exposições, oficinas e cursos.
Quando? 24 de fevereiro, 15h, no Bixiga
O Bloco Pagu nasceu em Outubro de 2016 com a missão de exaltar a busca por equidade e respeito à liberdade individual da mulher. Em pouco tempo tornou-se um dos mais expressivos blocos de carnaval de São Paulo, com uma bateria feminina com cem mulheres, entoa junto as interpretes principais, Barbara Eugênia, Julia Valiengo (Trupe Chá de Boldo), Soledad e Raquel Tobias clássicos da MPB que tornaram-se famosos na voz de ícones musicais do país: de Carmem Miranda a Elis Regina, passando por Marisa Monte, Gal Costa, Maria Bethania, Dona Ivone Lara, Rita Lee, Alcione, Beth Carvalho, Baby do Brasil, Margareth Menezes, Elba Ramalho, entre outras.
Quando? 5 de março, 14h, no Centro
Este é um bloco coletivo de visibilidade lésbica e bissexual, um espaço pras mulheres se sentirem livres, respeitadas, empoderadas e seguras. Desde 2017, elas colocam seu bloco na rua pra celebrar a sexualidade, diversidade e resistência. São mais de 100 mulheres unidas pra fazer um carnaval cheio de sapatão, bi, r̶e̶b̶u̶c̶e̶t̶e̶i̶o̶, batuque, alegria e respeito.
Quando? 9 de março, 14h, na Praça Emilio Miguel Abella, na República
Rio de Janeiro (RJ)
O Bloco Mulheres Rodadas é o primeiro bloco feminista do carnaval carioca. O grupo surgiu em 2015, como forma de protesto contra uma postagem machista feita na internet que dizia: “Não mereço mulher rodada”. Subvertendo a ordem e aproveitando o carnaval, o bloco perguntava: ainda cabe hoje algum rótulo dado às mulheres por conta de suas escolhas? Nos últimos cinco anos, o bloco levou milhares de pessoas às ruas com uma banda majoritariamente formada por mulheres, com repercussão nacional e internacional.
Quando? 6 de março, 9h – local próximo da data, pelo evento
Primeiro bloco de carnaval formado apenas por mulheres. O Mulheres de Chico homenageia o compositor Chico Buarque de Hollanda com arranjos originais.
Quando? 9 de março, 16h, no Leme – concentra mais não sai
Fundado em 8 de março de 2010, dia da mulher, o G.R.B.C. Mulheres da Vila é exclusivamente formado por mulheres. Os únicos homens permitidos são o rei e o muso da bateria.
Quando? terça de Carnaval na Av. 28 de Setembro em Vila Isabel
Fundado em 2009, o bloco Batuque das Meninas é formado apenas por mulheres oriundas das oficinas de percussão do Monobloco, Quizomba e Bangalafumenga. No repertório estão marchinhas, forró, ijexá, axé, pop, rock e funk carioca em ritmo de samba.
Quando? Quarta de cinzas, 17h, no Largo do Machado
Primeiro bloco LGBTQI+ de Carnaval fundado por mulheres lésbicas que no repertório faz releituras de Madonna a É o Tchan. Desde 2007 no Rio de Janeiro e há 3 anos em São Paulo.