Quem esperou não viu uma declaração robusta do presidente, após 1 ano de investigações, sobre a prisão de um policial reformado e um ex-policial suspeitos no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela Anderson Gomes.
Pouco à vontade com a imprensa, falou comedido como não costuma ser, que espera “que realmente a apuração tenha chegado de fato a esse, se é que foram eles os executores, e o mais importante, quem mandou matar”.
Aquele que em campanha tinha o discurso mais eloquente com relação à segurança pública, minimizou a importância de um caso que o mundo inteiro cobra que o estado brasileiro elucide.
Perguntado se ficou surpreso com a descoberta de que a vereadora foi assassinada por quem deveria protegê-la, saiu com essa: “Não, eu acredito que não existe crime impossível”.
Qualquer um que descobrisse ser vizinho do suspeito na morte da vereadora se diria no mínimo surpreso e chocado por se tratar de policial reformado bandido.
Mas, Bolsonaro estava sem jeito diante das câmeras, equilibrando-se para não falar nada que desse mais relevo às coincidências que envolvem seu nome e sobrenome aos suspeitos no crime.
Renato Rovai citou algumas:
“Eles sempre tiverem mais votos em regiões do Rio de Janeiro dominadas pelas milícias, mas isso era coincidência.
Eles condecoraram milicianos que estavam envolvidos em assassinatos, mas isso era coincidência.
Eles tinham pessoas empregadas em seus gabinetes que foram presas por envolvimento com as milícias, mas isso era coincidência.
Eles foram os únicos políticos com relevância eleitoral a não se pronunciar sobre o assassinato de Marielle, porque, segundo eles, não tinham coisa boa dizer, mas isso era coincidência.
Seus principais candidatos a deputados no Rio quebraram a placa de Marielle, mas isso era coincidência.
O chefe de gabinete do atual senador da família foi pego com depósitos bem acima do que recebia de salário e tem inúmeras fotos e relações com milicianos, mas isso era coincidência.
A assessora, parente de milicianos, assinava cheques deles na Assembleia, mas isso era coincidência.
O capitão deles mora no mesmo condomínio em que foi preso o acusado de assassinar Marielle, mas isso foi coincidência.
Um dia antes da prisão do suposto assassino de Marielle no condomínio em que Bolsonaro mora, o presidente da República postou uma mensagem no Twitter ameaçadora à jornalista Constança Rezende, do Estadão. O fato dela ser filha de Chico Otávio, que cobre milícias no Rio de Janeiro há tempos, e que soltou a matéria de hoje, em O Globo, com exclusividade antes das 6h da manhã, também foi só coincidência.”
Por tantas coincidências, ‘Eles’, os Bolsonaro, tentam reduzir a importância do crime que ganhou proporções gigantescas não só pelas vidas interrompidas a balas, mas pela ameaça que representa à democracia brasileira.
O deputado Eduardo Bolsonaro não segurou a arrogância e o desprezo e soltou: “Quem era Marielle? Estou falando com todo o respeito. Ninguém conhecia quem era Marielle Franco antes de ela ter sido assassinada. Depois, todo mundo começou a conhecer porque foi dada uma grande notoriedade.”
Foi dada notoriedade?
Quem escolheria ser assassinado para se tornar celebridade?
E se fosse o vereador Carlos Bolsonaro calado a balas?
‘Eles’, os Bolsonaro, certamente se posicionariam com a eloquência messiânica de campanha contra o crime organizado e em defesa da democracia.
Mas, como era Marielle, não podem ser.
Nem vivos, nem mortos.