OS CARAS PINTADAS DE BOLSONARO

OS CARAS PINTADAS DE BOLSONARO

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Por Florestan Fernandes, para o Jornalistas pela Democracia – Em 2017 jantei com Fernando Pimentel em Belo Horizonte. Durante a conversa, o então governador mineiro disse que naquele dia tinha ocorrido a formatura de uma turma da PM à qual ele não compareceu. O motivo era o homenageado, nada menos que o deputado federal Jair Bolsonaro. Fernando contou que o capitão estava viajando Brasil afora e sendo o paraninfo dos novos policiais militares. As solenidades sempre terminavam com saudações parecidas com as dos militares fascistas de extrema-direita do passado.

Talvez tenha sido através dessas festas de formatura que Bolsonaro deu início à sua enorme rede no WhatsApp, utilizando os números de celulares de PMs, de seus amigos e parentes. Depois vieram os contatos de fieis evangélicos e ruralistas. Neste fim de semana almocei com o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello que lá pelas tantas me disse que um oficial de alta patente contou a ele que Bolsonaro teria hoje sob seu controle o baixo escalão do Exército. E que poderia estar jogando na desordem institucional para repetir, à sua maneira, o que fez Getúlio Vargas no Estado Novo, ou o que tentou Jânio Quadros em 1961 na expectativa de voltar com plenos poderes nos braços do povo, fechar o Congresso Nacional, onde tinha minoria, e enquadrar os ministros do STF.

Essa é uma teoria que faz sentido e, se for verdadeira, não saiu dos dois neurônios do capitão. Teria saído de alguma agência de inteligência com know how em golpes de Estado. Me ocorreu que foi justamente a CIA a principal articuladora dos movimentos golpistas que resultaram em um período longo de ditaduras militares nos países na América Latina nos anos 60 e 70. A agência de espionagem americana fez parte do roteiro de Bolsonaro em sua visita recente a Washington.

Vale lembrar que, em 2009, o exército hondurenho sequestrou o presidente Manuel Zelaya e o enviou para o exílio na Costa Rica. O golpe foi tramado para impedir que o presidente, eleito democraticamente, conseguisse convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. Na época, o historiador e cientista político Muniz Bandeira cravou o seguinte comentário: “Provavelmente, o golpe em Honduras contou com a ajuda de setores da CIA e do Pentágono, que se alinham com os neoconservadores e se opõem ao presidente Barack Obama”. Dias depois do sequestro, Zelaya retornou a Honduras e tentou recuperar seu mandato. Sem sucesso, refugiou-se na embaixada do Brasil por quatro meses.

Em 2012, o presidente do Paraguai Fernando Lugo foi destituído da presidência num impeachment relâmpago que durou pouco mais de 24 horas O julgamento a jato de Lugo, sem tempo nenhum para a defesa, se configurou num claro golpe de Estado. A decisão já estava pronta e escrita. Por coincidência, a embaixadora americana na época, Liliana Ayalde, era a mesma diplomata dos EUA no Brasil em 2016 durante o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

O pressuposto para um golpe ter apoio e vingar é a desordem institucional e social. Esses ingredientes sobram no Brasil do atual governo. Como disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o governo Bolsonaro é um deserto de ideias. E não só de ideias, mas de quadros com o mínimo de competência para tocar os ministérios. Se a CIA está por trás de tudo isso, só o tempo dirá. Mas é bom ficar atento. Não acho que existam ingênuos no poder. Bolsonaro como presidente da República é o comandante em chefe das Forças Armadas e, certamente, tem apoio do pessoal do “baixo clero” do Exército, de PMs e até de ex-PMs que operam nas milícias do país.

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