Seria mais coerente com mentira histórica que propagam
KENNEDY ALENCAR
O presidente Jair Bolsonaro, as Forças Armadas, o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e o governador do Rio, Wilson Witzel, mentem ao dar as suas versões sobre o golpe militar de 1964 que instaurou uma ditadura durante 21 anos no Brasil.
Bolsonaro está sendo coerente com sua carreira política. Sempre menosprezou a democracia. No impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, dedicou o seu voto ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. O mais grave agora é que Bolsonaro mente no cargo de presidente, com muito mais poder para negar a realidade. Prega um revisionismo histórico insustentável. Exibe um negacionismo tosco: “Teve alguns probleminhas”.
O governador Witzel (PSC-RJ) diz que “nunca houve golpe no Brasil”, mas uma ação para evitar “um regime comunista”. O ministro Araújo foi na mesma linha: “Eu não considero um golpe. Considero que foi um movimento necessário para que o Brasil não se tornasse uma ditadura. Essa é a minha leitura da história”. O pessoal precisaria caprichar mais nas aulas de História no Rio Branco.
Fato: nunca houve ameaça comunista no Brasil. A luta armada só nasceu depois do golpe, numa reação contra a ditadura, especialmente após o endurecimento do regime em 1968, com o AI-5 (Ato Institucional Número 5). João Goulart não era um líder revolucionário. Foi derrubado ilegalmente por uma parcela da sociedade brasileira que era de direita. A Constituição de 1946 foi vilipendiada.
É uma vergonha que um presidente, a cúpula militar, um governador de Estado e um ministro defendam uma mentira. Agindo assim, enganam a população, iludem os jovens, desrespeitam a memória do país.
A “Ordem do Dia” escrita pela cúpula militar não tem nada de moderada. Os comandantes das Forças Armadas pensam como Bolsonaro. São apenas mais educados e recorrem a eufemismos. Mas sustentam a mesma tese. O golpe foi dado para evitar que o Brasil seguisse um rumo totalitário. Mentira.
O documento oficial sobre esse período é o relatório da Comissão Nacional da Verdade. O Estado brasileiro assumiu a responsabilidade pela morte e o desaparecimento de 434 pessoas que estavam sob a sua custódia. Se houve terrorismo, foi um terrorismo de Estado. Mais de 300 agentes públicos foram apontados como violadores de direitos humanos. A democracia foi interrompida durante 21 anos. Essa é a verdade a respeito do que aconteceu.
É triste que ainda tenhamos de ter um debate sobre um período claramente autoritário e que os militares insistam em não aceitar a responsabilidade pelos crimes que cometeram contra os direitos humanos. As Forças Armadas adiam uma conciliação política necessária para o fortalecimento da democracia no país.
Bolsonaro, as Forças Armadas, Witzel, Araújo e companhia deveriam comemorar o golpe em 1º de abril, o dia da mentira. Ficaria mais coerente com a inverdade histórica que tentam vender para a sociedade brasileira.