Agência Envolverde
Nos dois primeiros meses do ano, mais de 8.500 hectares de floresta, o equivalente a 10 milhões de árvores, foram derrubados na bacia do Xingu. O avanço da agropecuária, grilagem e abertura de estradas ilegais explicam esses índices, que superaram em 54% o total desmatado no mesmo período em 2018, quando foram detectados pouco mais de 5 mil hectares.
No porção mato grossense da bacia, essa porcentagem atingiu 204%, impulsionada por três municípios: Santa Carmem, com 1.119 hectares e Feliz Natal, com 755 hectares. Em União do Sul, os 1.139 hectares de floresta destruídos nos dois primeiros meses de 2019 representam 30% do total desmatado em 2018.
Devido às fortes chuvas em dezembro, houve uma redução no desmatamento em Terras Indígenas (TIs) em comparação com os últimos meses de 2018. O aumento dos índices em relação ao ano anterior, no entanto, é significativo: em janeiro, a destruição da floresta cresceu 221% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Já em fevereiro, a taxa atingiu 361% a mais do que o detectado em 2018.
Estrada ilegal ameaça isolados
A TI Ituna/Itatá, no Pará, foi a mais desmatada nos dois primeiros meses do ano, com 453 hectares. Nesse período foi detectada uma estrada no interior da TI, que se espalhou criando ramificações e segue em direção à vizinha TI Koatinemo, do povo Assurini. O ramal, localizado no meio da floresta, provavelmente está sendo utilizado por grileiros e madeireiros. A abertura de uma estrada para retirada ilegal de madeira na região é sem precedentes.
O território é uma área com restrição de uso, que impede a circulação de não-indígenas e destina seu uso exclusivo aos grupos isolados que ali vivem. Em 9 de janeiro, uma Portaria renovou a restrição de uso da área por mais três anos. Apesar disso, foi constatada a inscrição de CAR em dezenas de propriedades dentro da área interditada, que muitas vezes se sobrepõe. Algumas áreas dentro da TI chegam a ter cinco registros, o que indicaria que o território está sendo disputado por vários grupos de grileiros.
A TI localiza-se a menos de 70 quilômetros do sítio Pimental, principal canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte, e a destruição da floresta vem aumentando exponencialmente desde 2011, início da construção da usina. A implantação de um plano de proteção à Tis é uma condicionante de Belo Monte, mas nunca foi integralmente cumprida. [Saiba mais]
Na rota da Ferrogrão
A expectativa da construção da Estrada de Ferro 170, conhecida como Ferrogrão, vêm aquecendo o mercado de terras na região oeste do Mato Grosso. No ano passado, 17.685 hectares foram desmatados nos municípios de Cláudia, Feliz Natal, Marcelândia, União do Sul e Santa Carmem, todos na área de influência do projeto. Em União do Sul, município campeão de desmatamento em fevereiro, foram produzidos mais de 196 mil toneladas de soja em uma área de 59 mil hectares, segundo dados do IBGE/2017.
Se sair do papel, a obra vai conectar a região produtora de grãos do Mato Grosso aos portos de exportação no Pará, consolidando um novo corredor logístico de exportação do Brasil pela Amazônia. A construção da ferrovia deve potencializar os impactos socioambientais das áreas protegidas nas proximidades do seu trajeto, além de acirrar os conflitos fundiários da BR-163, rodovia paralela à Ferrogrão.
As áreas foram detectadas pelo Sirad X, o sistema de monitoramento de desmatamento da Rede Xingu +. Por meio da tecnologia de radar, é possível detectar o desmatamento através das nuvens que cobrem a região entre setembro e maio. Os boletins são publicados na Plataforma Rede Xingu +. Clique aqui para acessar a edição nº11.