É Nana Caymmi quem faz uma das mais belas interpretações do clássico Só Louco, do pai Dorival Caymmi.
Com uma suavidade que…
A gente imagina que seja uma artista sensível e que receba muito amor, porque é o que transmite aos ouvidos onde penetra.
Mãos de Afeto, Suave Veneno, Acalanto, Milagre, Sem Poupar Coração.
Aí, de repente, após longa hibernação artística – uma década sem álbum solo e três anos sem pisar num palco – Nana reaparece áspera, amargurada, neurastênica, cuspindo fogo pela venta na Folha De São Paulo.
“Em 71 minutos de entrevista à reportagem, Nana falou 89 palavrões”.
Não pelos palavrões, Nana merece as críticas que se alastraram com espanto, tristeza e raiva.
A vaia é por cantar mal a mágoa, inveja e desilusão.
Para declarar que gosta de Bolsonaro e odeia Lula, desafinou, desatinou.
“É injusto não dar a esse homem um crédito de confiança. Um homem que estava fodido, esfaqueado, correndo pra fazer um ministério, sem noção da mutreta toda… Só de tirar PMDB e PT já é uma garantia de que a vida vai melhorar.
Agora vêm dizer que os militares vão tomar conta? Isso é conversa de comunista. Gil, Caetano, Chico Buarque. Tudo chupador de pau de Lula. Então, vão pro Paraná fazer companhia a ele. Eu não me importo”, disse.
Achou pouco para superar o ostracismo e cuspiu no berço, ridicularizou familiares e associou vida boa a carro novo, apartamento com vista pro mar, o último celular da Apple e à última roupa do Givenchy.
Nana deu motivos para quem a admirava ficar profundamente triste.
É mais uma que sucumbiu ao deslumbre das coisas materiais e ao ódio como resposta à divergência política.
Qualquer um que votou em Bolsonaro pode ser a Nana amanhã.
Quantos que pareciam doces e inspiravam bons sentimentos agora refletem rancor e ódio?
Quantos usaram os discursos chulos de Bolsonaro como estímulo para revelar a própria essência?
Quem gosta do ex-presidente Lula e se prende a seus acertos, justifica com a necessidade de enfrentamento da desigualdade social, com o fortalecimento da democracia que acomoda todas as opiniões e persegue a igualdade de direitos.
É por justiça para todos e com amor, que muitos como Chico, Gil e Caetano pedem Lula Livre.
Só Louco resume a escolha por justiça social, liberdade e igualdade em idolatria.
Quem puder, demonstre tristeza por Nana.
Se ela colher ódio, perde quem entende de amor.