Militarizar escolas, não! Escola é escola, quartel é quartel

Militarizar escolas, não! Escola é escola, quartel é quartel

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Militarizar Escolas: Entre aprender a obedecer e aprender a prender

No Pensar Piauí

Por Elton Arruda, Professor da rede pública estadual do Piauí.

Muita gente de bom coração e intenções honestas tem pensado na militarização das escolas como forma de melhorar a educação e proteger as novas gerações do que o espaço extraescolar impõe de ruim. Algumas verdades são inevitáveis nisso: primeiro, que as escolas brasileiras públicas e privadas precisam melhorar muito; segundo, que males como violência ou drogas fazem parte da sociedade atual e devem mesmo ser motivo de preocupação. Entretanto, acreditar que um suposto endurecimento das regras de convivência intraescolar resolverá as questões é, no mínimo, ingenuidade.

Sobre a rígida disciplina e os processos pedagógicos intraescolares.

Inúmeros estudos sobre educação apresentam correntes de pensamentos pedagógicos que se posicionam diferentemente sobre esta questão. Verdadeiro é dizer que dessas correntes pedagógicas, as correntes mais modernas apostam na construção da autonomia e da capacidade criativa do sujeito como forma de forjar seres humanos capazes de inovar em respostas para problemas sociais complexos como as questões ambientais, as crises econômicas, problemas de ordem ética que se renovam cotidianamente e etc. A figura política do aluno com receptor, obediente, dócil (quase servil, como os subalternos na caserna!) não está compatível com os processos necessários para construção do cidadão livre, participativo, que olha o passado para agir no presente e mudar presente e futuro. O problema da escola hodierna não é a falta de disciplina. Se fosse isso, ainda assim, seria uma loucura o expurgo desses alunos (como se faz nas seleções ordinárias e extraordinárias – expulsões – das escolas militares). A questão da disciplina, em países com indicadores positivos na seara da educação se faz com múltiplos estímulos no decorrer do processo ensino-aprendizagem, conteúdo e objetivo claros, rotina densa de atividades variadas, maiores jornadas escolares, tudo em perspectiva radicalmente inclusiva. Menos que isso é o que já temos hoje.

Sobre proteger as novas gerações dos males de nosso tempo.

A violência contra a vida, as drogas, a prostituição os crimes cibernéticos e outros inúmeros riscos estão postos pela sociedade e não se materializam somente em ambientes escolares. Em Suzano-SP recentemente jovens invadiram uma escola onde estavam matriculados mais de mil alunos e puseram fim violento a algumas vidas e ameaçaram tantas outras. Isto acontece em qualquer lugar, a qualquer hora. A escola, mesmo como lugar privilegiado de cultivo e transmissão de saber, é parte do todo social e histórico que compreende o mundo vivido e com isso a violência e toda ordem de mazelas. Elevar muros, asseverar vigilância, padronizar por meio da coerção os ritos, comportamentos e relações interpessoais também não resolvem o problema que é da sociedade. Essas medidas criam, sim, uma bolha frágil e artificial que vende por meio da militarização da escola, uma sensação de segurança que do portão da escola para fora não pode ser sustentada.

Sobre a Polícia Militar, quarteis e educação.

Muito se fala sobre a Polícia Militar. Muitos questionam sua eficiência, presença e resultados. Aqui é pertinente lembrar que ir às ruas enfrentar o crime, inibi-lo e fazer cumprir a lei é tarefa hercúlea que exige das forças de segurança pública extremo preparo e total dedicação. Investimentos em formação técnica, salários, equipamentos e ações de inteligência, são um imperativo. Ter a confiança e colaboração da sociedade exige das polícias aproximação e capilaridade. Como, em meio a um intenso combate a violência, dispor de horas de trabalhos desses profissionais para os fazeres da educação pública? Onde queremos nossos policiais? Por outro lado, como enfrentar os problemas enfrentados pelas escolas abrindo mão das inúmeras experiencias positivas existentes no brasil e no mundo, em nome de um paliativo?

Esse debate deve seguir. Não cabe aqui encerrar, mas deve ficar claro que escola é escola, quartel é quartel. As ruas precisam de mais policiais e as escolas de mais estrutura, investimentos e estímulo aos alunos para que, pretendemos, consigam salvar o mundo.

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