Operação da PF, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, cumpre mandados em inquérito que investiga ‘fake news’
JOANA OLIVEIRA
El País
A Polícia Federal (PF) amanheceu nesta terça-feira cumprindo oito mandados de busca e apreensão dentro de um inquérito sobre ataques e propagação de notícias falsas sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na internet. A operação acontece um dia depois do ministro Alexandre de Moraes ter censurado os sites O Antagonista e Crusoé, determinando que excluíssem uma reportagem e notas publicadas na semana passada que mencionam o presidente da corte, Dias Toffoli, em delação do empresário Marcelo Odebrecht.
Sob o título “O amigo do amigo do meu pai”, a reportagem da revista Crusoé cita esclarecimentos respondidos nos últimos dias por Odebrecht a questionamentos da PF sobre quem seria a pessoa por trás do codinome “o amigo do amigo do meu pai”, captado em trocas de emails de julho de 2007 entre o empresário e executivos do grupo. A alcunha era atribuída ao presidente da Corte, Dias Toffoli, então Advogado Geral da União do ex-presidente Lula, esclareceu Odebrecht. Embora a reportagem tenha feito a ressalva de que a informação não apontava nada ilegal – apenas sugeria que Toffoli falasse a respeito – os sites foram notificados na segunda-feira (15/04), suspendendo a circulação da reportagem. O ministro ainda determinou uma multa por descumprimento de 100.000 reais por dia.
A operação desta terça, ordenada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, marcou a posição da corte após críticas contundentes por toda a imprensa sobre a censura aos órgãos de imprensa. As buscas, que acontecem em São Paulo e Brasília, tem como um dos alvos o general da reserva Paulo Chagas (PRP-DF), que foi candidato ao governo do Distrito Federal no ano passado. “Caros amigos, acabo de ser honrado com a visita da Polícia Federal em minha residência, com mandato de busca e apreensão expedido por ninguém menos que o ministro Alexandre de Moraes. Quanta honra! Lamentei estar fora de Brasília e não poder recebê-los pessoalmente”, escreveu Chagas em seu Twitter no início da manhã.
O inquérito do STF que culminou na operação desta terça foi aberto em março pelo ministro Dias Toffoli para apurar, segundo a corte, fake news, ameaças e ofensas caluniosas, difamatórias e injuriosas a ministros do Supremo e seus familiares.
A reportagem da Crusoé, interpretada como ofensiva por Alexandre de Moraes, cita um e-mail enviado por Odebrecht a dois executivos da empreiteira, Adriano Maia e Irineu Meirelles, no qual o empresário escreveu: “Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?”. De acordo com Odebrecht, esse “amigo do amigo de meu pai” seria Dias Toffoli. Não há referência a pagamentos no email.
Marcelo Odebrecht explicou à PF, de acordo com a revista, que a mensagem se referia a tratativas que o então diretor jurídico da empreiteira, Adriano Maia, tinha com a AGU sobre temas envolvendo as hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia. Após a decisão de Moraes, a direção da revista reafirmou o teor da reportagem, considerada pela publicação como censurada pelo Supremo. Moraes justificou sua decisão afirmando que a Constituição proíbe a censura prévia, mas permite reparações posteriores à publicação de um conteúdo.