Partido quer volta às origens, depois de ter caminhado em direção ao centro do espectro político
João Pedro Pitombo
Na Folha
Com uma bancada de 32 deputados federais, a segunda maior da oposição, o PSB fechou questão contra o projeto de reforma da Previdência enviado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A decisão foi tomada com relativa tranquilidade, cenário muito diferente ao de dois anos atrás, quando a bancada rachou frente ao projeto de reforma trabalhista enviada pelo então presidente Michel Temer (MDB).
Depois de ter caminhado em direção ao centro do espectro político, o PSB retomou um perfil mais à esquerda, unificou o discurso e quer se apresentar como um player importante no campo de oposição ao governo Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, prepara o caminho para as eleições municipais de 2020, quando deve lançar candidatos próprios nas maiores cidades do país, aliando políticos experientes a jovens apostas.
“O PSB vai se afirmar com sua história e legado de mais de 70 anos. Não há crise de identidade”, afirma o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira.
O reencontro com as origens acontece cinco anos depois de o partido ter aberto espaço a políticos mais conservadores, como Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, que concorreu à Presidência em 2014.
A bancada eleita pelo PSB naquela eleição, marcada pela morte de Campos em um acidente de avião, tinha 34 deputados. Dentre eles, nomes como o líder evangélico Pastor Eurico (PE) e a ruralista Tereza Cristina (MS) —hoje é filiada ao DEM e ministra da Agricultura do governo Bolsonaro.
“Quando Eduardo morreu, o partido se viu diante dessa condição de resolver seus dilemas internos”, lembra o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), que hoje preside a Fundação João Mangabeira.
Com o racha em 2017, 13 deputados de perfil mais conservador deixaram o PSB.
No ano seguinte, o partido quis disputar a Presidência com o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que acabou desistindo da empreitada.
Sem nome forte para o cargo, optou pela neutralidade em troca de acordos com o PT em Pernambuco e Minas.
Nesta legislatura, o PSB quer unificar a esquerda, que passa por um momento de fragmentação devido ao distanciamento entre partidos como PT e PDT.
“Não queremos engolir nem sermos engolidos por ninguém. Há espaço para todo mundo do nosso campo”, avalia Ricardo Coutinho.
Semanas atrás, Coutinho se reuniu com Fernando Haddad (PT), Flávio Dino (PC do B), Guilherme Boulos e Sônia Guajajara (PSOL) para discutir uma agenda comum frente ao governo Bolsonaro.
A unidade também é defendida pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), que, depois de ter se aliado a PSDB e DEM em 2014, reaproximou-se do PT nas últimas eleições.
“A gente sempre sentou à mesa com o PT e vamos continuar sentando. Isso é uma construção. A gente não pode pensar em 2022 com imediatismo. Isso tem que ser construído ao longo dos próximos anos”, disse Câmara à Folha em fevereiro.
A aproximação com o PT nacionalmente, contudo, enfrenta resistência de quadros mais ao centro do partido —caso dos ex-governadores Márcio França (SP), Rodrigo Rollemberg (DF) e do governador Renato Casagrande (ES).
Uma aliança com os petistas não seria estratégica, por exemplo, para França, que deve ser o candidato à Prefeitura de São Paulo respaldado pela boa votação obtida na capital em 2018, quando perdeu a disputa pelo governo do estado para João Doria (PSDB).
As eleições municipais, aliás, são encaradas como cruciais para o partido fortalecer sua posição no tabuleiro para as eleições gerais de 2022.
Para isso, o PSB deve ter candidatos nas principais capitais. No Rio, o deputado federal Alessandro Molon, que foi do PT e da Rede Sustentabilidade, aparece como provável nome do partido em 2020.
No Nordeste, o partido deve apostar em novos nomes, como o deputado federal João Campos (filho do ex-governador Eduardo Campos), que pode disputar a sucessão da Prefeitura do Recife, atualmente sob comando de Geraldo Júlio (PSB). Em Salvador, o partido ensaia lançar o vereador Silvio Humberto.
Para a próxima corrida presidencial, o PSB pensa novamente em Joaquim Barbosa. Recentemente, ele foi convidado (e aceitou) integrar um grupo do partido para discutir relações internacionais.
“Temos um projeto para o Brasil com uma visão de esquerda moderna e democrática. Mas cada coisa no seu tempo”, resume Carlos Siqueira, presidente do nacional do PSB.
O PSB à esquerda
1945: Com o fim do Estado Novo, grupo de 63 pessoas funda a Esquerda Democrática, movimento que surge como via do meio entre liberais e comunistas.
1947: A Esquerda Democrática dá origem ao Partido Socialista Brasileiro, que surge com pautas de defesa das reformas estruturais e nacionalização de áreas estratégicas.
1950: Partido disputa, pela primeira vez, a Presidência da República. O candidato João Mangabeira termina em quarto lugar, com 9 mil votos.
1965: PSB é extinto pelo Regime Militar com Ato Institucional Nº 2, que institui o bipartidarismo com Arena e MDB.
1985: Com a abertura política, o PSB é refundado por um grupo de estudantes e professores universitários capitaneados pelo professor e diplomata Antonio Houaiss.
1989: Governador de Pernambuco Miguel Arraes entra no PSB. Partido apoia chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e indica o senador José Paulo Bisol (PSB) para vice.
2002: Partido lança para a Presidência o então governador do Rio, Anthony Garotinho, que termina a eleição terceiro lugar. No segundo turno, apoia Lula.
2005: Morre Miguel Arraes. Seu neto, Eduardo Campos, assume presidência do PSB. No ano seguinte, partido apoia reeleição de Lula, e Campos se elege governador de Pernambuco.
2010: Partido deixa de lançar a candidatura de Ciro Gomes e apoia Dilma Rousseff (PT) para a Presidência.
2014: PSB lança Eduardo Campos como candidato à Presidência e abre-se a quadros mais conservadores. Campos morre durante a campanha e Marina Silva assume a candidatura pelo partido.
2016: Maioria do partido apoia o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Com a ascensão de Michel Temer, deputado do PSB assume ministério das Minas e Energia.
2017: A Executiva Nacional do PSB defende a renúncia de Temer. Bancada na Câmara racha e 13 deputados deixam o partido.
2018: Após recuo de Joaquim Barbosa, PSB fica neutro na eleição presidencial em troca de acordos regionais com o PT. Partido elege três governadores e 32 deputados.