El País, por Lluís Bassets- A Europa interessa. Mobiliza. Isso foi demonstrado pelo aumento da participação neste domingo nas urnas. A mais alta dos últimos 20 anos. A democracia vive do confronto e do conflito. Na realidade, é o sistema que serve para organizar o confronto e o conflito e transformá-los em governos e políticas.
Só se vota quando cada voto conta. Nunca se havia ido votar na Europa em um clima de tanto pessimismo e até de incerteza sobre o futuro da União Europeia, com um dos parceiros, o Reino Unido, em processo de incerto divórcio, e a consolidação em quase todos os países de formações de extrema direita, hostis às transferências de soberania para Bruxelas.
São dois os impulsos que levaram os cidadãos às urnas com maior intensidade do que em ocasiões anteriores. De um lado, a polarização induzida pela maré nacionalista e populista, especialmente forte na França e na Itália, países onde as formações de extrema direita são a primeira força. Por outro, o surgimento de um voto jovem e ambientalista, que foi expresso muito claramente na Alemanha, e colocou os Verdes como o segundo partido, superando a socialdemocracia, e na França, como o terceiro, acima das duas grandes formações do passado, Os Republicanos e o Partido Socialista.
Também aumentou a fragmentação parlamentar, especialmente intensa graças a ambos os impulsos centrífugos. As duas formações que constituíram as maiorias historicamente, populares e socialistas, deverão contar com os liberais ou com os Verdes, e inclusive com ambos, para a formação de maiorias parlamentares e, principalmente, para a seleção e nomeação dos altos cargos das instituições europeias.
O anti-europeísmo das diferentes formações da extrema direita em ascensão tomou um novo rumo, expresso na campanha eleitoral e resultado das dificuldades britânicas para completar o Brexit. Esses partidos já não querem deixar a União Europeia, mas tirar proveito de seus orçamentos e meios para mudá-la e até destruí-la por dentro.
Esse anti-europeísmo pesará e contará, mas dificilmente terá cadeiras suficientes para bloquear a atividade parlamentar. Entre outras razões, pelas divisões que dificultarão sua convergência em um único grupo, especialmente entre liberais e intervencionistas, pró-russos e antirrussos, e em alguns casos até mesmo por suas atitudes diferentes em relação aos Estados Unidos e Israel. A personalidade política mais castigada nestas eleições é o presidente francês, Emmanuel Macron, superado em votos por Marine Le Pen e enfraquecido, portanto, em suas intenções de liderar a atual etapa da construção europeia. Também ficou desgastada a grande coalizão que governa a Alemanha, cujos dois componentes somados, CDU-CSU e SPD, perdem quase 20 pontos. A dupla franco-alemã, que é tradicionalmente o motor da construção europeia, sai exaurida das eleições de domingo.
Matteo Salvini, o líder da Liga, aspira a se tornar o mais premiado nas urnas. Um prêmio com o qual pode lutar para encabeçar o Governo, graças ao sorpasso do Cinco Estrelas, e assim constituir uma voz poderosa no próprio Conselho Europeu, onde já estão dois governos de extrema direita como o polonês e o húngaro. Apesar de seu êxito, Salvini está aquém em seus propósitos de liderar uma forte oposição antieuropeísta em Bruxelas.
O euroceticismo e o nacionalismo populista levaram os cidadãos às urnas com mais força do que em outras ocasiões. Fica a dúvida de saber se uma presença fortalecida desse europeísmo anti-europeu nas instituições será um estímulo ou um novo freio. Mas isso já não dependerá dos eleitores.