Eventual êxito do presidente representará abalo a instituições e à própria democracia
Na Folha
Ranier Bragon
O bolsonarismo sempre prometeu acabar com a mamata, a corrupção, o desvio, o malfeito e todo tipo de sinônimo de bandalheira que talvez nem a falecida UDN tenha conseguido catalogar.
Do discurso à realidade, porém, há todo um Grand Canyon que só quem habita a Mitolândia parece ignorar. Faltasse ainda algum comprovação disso, a novela para a indicação do novo procurador-geral da República estaria aí para completar a lacuna.
Por que, ó Jesus, o presidente procura emplacar uma mão amiga na chefia do Ministério Público Federal?
Até o PT, o maior batedor de carteiras das galáxias, na visão do bolsonarismo, sempre escolheu o mais votado pelos procuradores, que integram uma das instituições mais sérias e basilares da nossa democracia.
E muita gente se esforçou no beija-mão palaciano para assim parecer.
O plano insulta a República e tem tudo pra dar errado. Para Bolsonaro ou para as instituições. Caso opte mesmo por um nome, digamos, polêmico, restará aos senadores e senadoras provarem que honram as calças e saias que vestem. Se se dobrarem a emendinhas e outras benesses e aprovarem a extravagância, terão o opróbrio como recompensa.
Mesmo nesse cenário, ressalte-se que o procurador-geral tem poder, mas irá enfrentar a decência de um sem-fim de colegas ciosos de suas biografias. E é sempre bom lembrar que os bajuladores têm o singular caráter de sempre serem os primeiros a colocar o pezinho pra fora do barco quando os ventos mudam.
O certo é que o atual processo tem sementes contaminadas que jamais poderão resultar em frutos sadios.