A organização constatou também que em oito meses deste ano, a área total com alertas de desmate foi de 6 mil km², valor 62% maior do que o observado para o mesmo período em 2018.
Por G1
Entre janeiro e agosto de 2019, um terço dos focos de queimadas registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi identificado em áreas que até julho de 2018 eram floresta. Um levantamento divulgado nesta sexta-feira (6) pela WWF-Brasil comparou o número atual de incêndios com as áreas desmatadas.
A organização constatou que em oito meses deste ano, a área total com alertas de desmatamento foi de 6 mil km², valor 62% maior do que o observado para o mesmo período em 2018. Já o número de focos de queimadas na Amazônia, entre janeiro e agosto de 2019, cresceu mais de 110%, na comparação com o mesmo período de 2018.
O diretor-executivo da WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, defendeu por meio de nota que as queimadas na região de floresta não são naturais e pediu uma ação conjunta do governo, do setor privado e da sociedade para a proteção deste bioma.
Ao todo, foram registrados 46.825 pontos, valor 64% maior que a média dos últimos dez anos para os mesmos oito meses, defendeu a organização.
Fogo em áreas protegidas
A WWF-Brasil denunciou uma tendência de elevação nas áreas com alertas de desmatamento dentro de áreas protegidas nos últimos três anos: 11% em 2017, 13% em 2018 e 17% em 2019. Dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostraram que 20% dos focos de queimadas registrados até agosto deste ano ocorreram dentro de áreas protegidas.
Imagem mostra resultado das queimadas na Terra Indígena (TI) Areões, no município de Nova Nazaré (MT) — Foto: Ibama/Divulgação
Na terça (3), o G1 mostrou que o território indígena de Areões teve pico de queimadas mesmo depois de ação do Ibama e da Polícia Federal (PF) . A reserva teve 46 focos de queimadas no sábado (31), segundo o (Inpe).
O número representou um pico na série feita pelo instituto ao longo do ano e foi verificado três dias depois de uma operação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal (PF) para identificar os responsáveis pelo fogo que já tinha destruído 219 mil hectares das áreas protegidas na região.
Onde há fumaça há fogo
As queimadas na Amazônia têm relação direta com o desmatamento. Especialistas comentaram ao G1 que o fogo é parte da estratégia de “limpeza” do solo que foi desmatado para posteriormente ser usado na pecuária ou no plantio. É o chamado “ciclo de desmatamento da Amazônia”.
O biólogo e cientista norte-americano Philip Fearnside explicou que é comum produzir queimadas em áreas desmatadas.
“É uma maneira viável de se livrar de todo o mato. A queimada também ajuda a preparar o solo para a plantação. Serve para diminuir a acidez do solo, um problema na Amazônia, e deposita nutrientes.”
O “ciclo de desmatamento” tem como base a tentativa de ocupação desregrada de terras da União, inclusive em áreas protegidas, como verificou o Desafio Natureza no Pará. “Ocupa-se a área pública, e é feito o desmatamento como forma para valorizar a terra e vender”, explicou Tasso Azevedo, coordenador-técnico do Observatório do Clima.
Mais chuvas, fogos e desmate
De acordo com um levantamento exclusivo feito pelo G1, a Amazônia teve mais chuvas, mais queimadas e mais alertas de desmatamento entre janeiro e agosto em 2019 do que o registrado no bioma nos mesmos períodos desde 2016.
Os números vão contra declarações dadas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Após a alta das queimadas afetar a rotina de São Paulo e virar pauta do G7, Bolsonaro chegou a relacionar as queimadas na Amazônia à estação durante um pronunciamento em rede nacional no dia 23 de agosto.
Infográfico mostra os índices de chuva, queimadas e desmatamentos de 2016 a 2019. — Foto: Arte G1
Resumo da situação no ano
- Chuva acumulada – 11,68% acima da média registrada no período analisado: em 2019 foram 219,95 mm em média para a região da Amazônia, enquanto a média de 2016 a 2019 era de 196,94 mm – um pouco abaixo da média histórica entre 1981 e 2010 na região, que é de 204,73 mm.
- Alertas de desmatamento – 55% de aumento em relação à média do período 2016-2019: de janeiro a agosto de 2019 a área sob alerta somou 6,1 mil km², enquanto que em 2018 a área foi de 3,3 mil km².
- Queimadas – 34% acima da média do período: foram 46,8 mil focos de incêndio até agosto de 2019, enquanto a média de 2016 a 2019 é de 34,9 mil