[…] Mais uma vez os homens [e mulheres], desafiados pela dramaticidade da hora atual, se propõem a si mesmos como problema. […]. Constatar esta preocupação implica […] reconhecer a desumanização. […] a partir desta dolorosa constatação […] se perguntam sobre a outra viabilidade – a de sua humanização. […]. Humanização e desumanização, dentro da história, num contexto real, concreto, objetivo, são possibilidades dos homens [e mulheres] como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão. […] adesumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é, porém, destino dado, masresultado de uma “ordem” injusta que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos. (FREIRE, 1987, p. 19).
O contexto brasileiro desde o ano de 2015 até início de 2019 apresentou um conjunto de modificações políticas que têm produzido múltiplos impactos sociais, de penalização, sobretudo para as camadas mais vulneráveis da população com repercussões para a educação básica e superior. Estamos nos referindo particularmente ao golpe patrocinado pelas forças conservadoras que culminou na saída da Presidenta eleita Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, a assunção de Michel Temer e posteriormente a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.
Desde então, em âmbito social e educacional, as ações encaminhadas por este núcleo gestor têm produzido agressões, exclusões, violências de diferentes formas, pessoais e institucionais a tudo que cheira povo, diferença e liberdade, atingindo em cheio as etnias brasileiras.
A partir de um olhar crítico para estas estruturas e em atenção às premissas estabelecidas pela LDB nº 9.394/1996, de que a Educação se inspira nas práticas sociais, é que propomos nesta XII Edição do Seminário de Educação (SED) o tema “Resistência Originária: Povos Indígenas e Paulo Freire”, enquanto possibilidade de leituras e interpretações da complexidade do momento em que vivemos.
Teremos, pela primeira vez, um SED Indígena, pois acontecerá entre os dias 29 e 31 de outubro de 2019, em plena etapa de estudos do curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural que completa uma década de existência e re-existência produzida diariamente em busca de justiça social, com a perspectiva de que é possível construir um mundo onde caiba todos e todas e na perspectiva freireana “outro mundo é possível”.
Em companhia dos estudantes indígenas Aikanã, Amondawa, Arara, Aruak, Canoé, Cao Oro Waje, Cabixi, Cinta Larga, Cujubim, Gavião, Jabuti, Karitiana, Karipuna, Kaxarari, Macurap, Mamaindê, Migueleno, Negarotê, Oro At, Oro Eo, Oro Mon, Oro Nao’, Oro Waram, Oro Waram Xijein, Oro Win, Paiter, Puruborá, Sabanê, Sakurabiat, Tupari, Uru Eu Wau Wau, Wajuru e Zoró e seus representantes – movimento social, lideranças, sabedores e sabedoras, mulheres, jovens, homens e crianças, conosco – os Djala, Tarupá, Yara, em mais um esforço pedagógico de caráter intercultural, ampliaremos nossas concepções de currículo sobre Amazônia, Educação Crítica, Diferenças Culturais, Diálogos de Saberes, Decolonialidade e Bem Viver. Temos muito para falar, mas, sobretudo, temos muito para ouvir e aprender.
Uma temporalidade de “balbúrdias” – solidárias, intelectuais em sintonia com as sabedorias ancestrais, sem medo dos entre-lugares, do pensamento fronteiriço, de produção de “inéditos viáveis”, um exercício coletivo de reafirmação da re-existência dos Povos Originários expresso em diferentes línguas e manifestações representadas por múltiplas linguagens – gestos, pinturas, músicas, danças, vestes, artesanatos, audiovisuais, escritos de autoria indígena – monografias, dissertações, produção de material didático, artigos, livros e capítulos de livros.
Nesta XII Edição do SED, no Ano Internacional das Línguas Indígenas, reafirmamos nossa luta e esforços coletivos pela democracia, humanização e a crítica ao projeto colonial de destruição dos povos, principalmente das nações indígenas. A memória e a oralidade denunciam os danos irreparáveis provocados pelo saque dos territórios tradicionais para implantar a colonização em Rondônia que repercute na colonialidade… Com os Paiter Suruí em seus 50 anos de contato oficial – com o Estado brasileiro e a sociedade civil – cantamos: “Koi txangaré, koi txangaré, xiripába mãi txangaré, xameapab mãi txangaré…”.
Comissão Organizadora Geral/Local