No Pensar Piauí, por Odoríco Carvalho – Os brasileiros que conhecem a história já sabem, de muito tempo, como agem as elites: ou se apoderam do estado em benefício próprio ou entregam nossas riquezas recebendo seus lucros por vias tortas. E para atingir seus objetivos nada as detém. Foram capazes de ir à África laçar negros altivos em suas aldeias, jogá-los nos porões infectos de navios e força-los, a ferros, a uma existência de dor e escravidão.
Começaram enganando os nativos com bugigangas, dividiram a imensidão de nosso território em capitanias hereditárias para seu usufruto. Estamos entre os últimos países a acabar com a escravidão e a dar voz às mulheres nas urnas. Aos negros não bastava a servidão: eram proibidos de aprender a ler, enquanto os filhos dos poderosos iam estudar na Europa. Daí ser o Brasil um dos últimos países da América Latina a criar sua primeira universidade. A manutenção de seus privilégios exigia uma população inculta, alienada e servil.
Ao longo de nossos 500 anos de existência, essa foi a tônica com breves hiatos onde forças mais ou menos progressistas assumiram o poder: Getúlio, João Goulart, Lula e o PT, forças estas atacadas com unhas e dentes e, invariavelmente, apeadas do governo pela força ou mediante armações onde os poderes da república foram cooptados para o mal.
Pois bem, durante o governo FHC, esse projeto perverso das elites assumiu sua face mais horrenda. Venda indiscriminada do patrimônio público, ataques às universidades, o abandono dos pobres a sua própria sorte, o desmonte das poucas conquistas como, por exemplo, a previdência social mediante a truculenta reforma feita ao apagar das luzes de seu tenebroso governo.
Para quem não lembra, até instituições seculares como o Banco do Brasil, protegidas pela Constituição Federal, foram alvos do desmonte. A custos financeiros enormes, tentaram mudar o nome para Banco Brasil para torna-lo palatável à banca internacional. Da mesma forma, a Petrobras mudaria para Petrobrax. Os estaleiros brasileiros, detentores de invejável know-how, foram sucateados, enquanto o país importava plataformas de Singapura, gerando empregos lá e deixando nossos operários à mingua.
Durante a campanha de 2002, Lula prometeu mudar tudo isso. Quem não lembra de sua foto com os mãos pretas de petróleo bruto? Ou de sua visita aos estaleiros do Rio de Janeiro? E de suas reuniões com os servidores do BB? Já entrou para a história, pois, que Lula salvou essas empresas, deu reajustes dignos aos seus servidores, colocou o país de pé e ganhou protagonismo internacional.
Nas eleições passadas, as mídias da direita, herdeiras das capitanias hereditárias, mostraram servidores dos Correios fazendo campanha agressiva em favor de Bolsonaro. Chegaram a queimar a bandeira do PT em ato público. Funcionários do BB se rasgavam nas redes sociais em defesa do salvador nacional, Bolsonaro, como se não soubessem que ele era – e é – mero joguete, um mamulengo a servir aos interesses das classes dominantes.
Agora, os servidores dos Correios, traídos pela própria ignorância, entram em greve onde reajustes salariais são de menos importância visto que o que está em jogo são seus empregos e seu futuro. O fantasma da Amazon – provável compradora da estatal – paira sobre suas cabeças. No governo Bolsonaro é assim: vem a Amazon, vai a Amazônia.
Como dizia a minha avó: quem não sabe é como quem não vê, mas aos servidores públicos não se dá essa desculpa. Eles sabiam! Ou nos dizeres do compositor mineiro Beto Guedes: “a lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.