A exibição do documentário do jornalista Zola Xavier sobre um atentado político em 1962 foi um sucesso de público, mas aqui e acolá li críticas fundadas no ‘esperava mais’.
Os ‘Cutubas’ revoltados com a exumação do fato histórico e os ‘Peles Curtas’ com expectativa metódica, cobraram mais do que nunca fora documentado por censura e covardia.
São reações normais e que devem ser concebidas não como freio, mas impulso.
O que Zola fez com a ajuda de amigos, muita dificuldade de acesso a dados e testemunhos, agora pode ser feito melhor por quem tenha mais recursos financeiros e experiência em produção audiovisual.
Os que resumem a produção no ‘esperava mais’, deviam focar no ‘por que esperamos tanto tempo’ e só pelo valor dos testemunhos o documentário cumpre sua finalidade.
Ao acompanhar as andanças de Zola, Basinho e Anísio, conversar sobre como iam as gravações, percebi claramente que a única pretensão era quebrar o silêncio.
Não esperei uma história contada com início, meio e fim, muito menos que encerrasse a controvérsia de 57 anos sobre o duelo político que acabou em sangue e silêncio.
A mim não decepciona a ousadia de simplesmente abrir um sepulcro histórico e desenterrar interrogações.
É esse o grande feito, desenterrar interrogações para que outros explorem a história por vários ângulos.
Um passo é ação extraordinária até que outros se atrevam a avançar no escaninho da história.
Quem pensa que foi fácil e de pouco valor convencer testemunhas a darem a cara à tapa nesta aldeia de conveniências espantosas e duradouras, não fez, nem fará mais e melhor.
Se Caçambada Cutuba deixou tantas interrogações, cumpriu sua finalidade.
A intenção é amplificar e produzir mais e mais versões sobre o que estava restrito à boca do povo, costurado com décadas de fingimento.
Os que ‘entendem’ de produção documental que ‘esperavam mais’, podem e devem fazer mais.
Desenterrem todos os silêncios!
O imenso público que prestigiou a estréia do documentário, quer mais.
Eu, com imensa satisfação, agradeço a Zola pelas interrogações.