Nobel alternativo: líder yanomami Davi Kopenawa é o sétimo brasileiro a ganhar o prêmio

Nobel alternativo: líder yanomami Davi Kopenawa é o sétimo brasileiro a ganhar o prêmio

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O líder indígena Davi Kopenawa, do povo Yanomami, é um dos ganhadores do Right Livelihood Award, mais conhecido como prêmio “Nobel Alternativo”.

Na BBC

Ele receberá a premiação juntamente com a Hutukara Associação Yanomami, cofundada e presidida por ele, “pela corajosa determinação em proteger as florestas e a biodiversidade da Amazônia, e as terras e a cultura de seus povos indígenas”.
Outras três pessoas também receberam o prêmio — a jovem ativista ambiental Greta Thunberg (Suécia), a defensora dos direitos humanos, Aminatou Haidar (Saara Ocidental) e a advogada Guo Jianmei (China).

Eles vão receber 1 milhão de coroas suecas (cerca de R$ 430 mil), destinadas a apoiar o trabalho que estão conduzindo.
É a sétima vez que o Brasil tem um representante entre os ganhadores do prêmio – que já foi concedido ao bispo Erwin Kräutler (2010), ao arquiteto e ativista social Chico Whitaker Ferreira (2006), ao teólogo Leonardo Boff (2001), à Comissão Pastoral da Terra (1991), ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (1991) e ao agrônomo e ecologista José Lutzenberger (1988).

“Davi Kopenawa, junto à Hutukara Associação Yanomami, está resistindo exitosamente à impiedosa exploração de terras indígenas na Amazônia, protegendo nossa herança planetária comum”, afirmou Ole von Uexkull, diretor-executivo da Right Livelihood Foundation.

A trajetória de Kopenawa

Nascido por volta de 1955 (a data é incerta), Kopenawa é xamã e porta-voz dos yanomami, que vivem isolados na Amazônia, perto da fronteira com a Venezuela.

Há mais de 30 anos, ele viaja pelo mundo em defesa do seu povo. Recebeu o apelido de “Dalai Lama da Floresta Tropical” e foi chave para o reconhecimento oficial do território yanomami na Amazônia em 1992, depois de quase dez anos de luta.

Davi Kopenawa rodeado por crianças indígenas em 1990Direito de imagemSURVIVAL INTERNATIONAL
Image caption‘Nossa terra é tudo o que sabemos. Eu não vou parar de lutar’, diz Kopenawa

O território é duas vezes maior que a Suíça — sendo a maior área indígena coberta por floresta do mundo, de acordo com a organização Survival International.

Nos anos 1950 e 1960, o contato intensificado com homens brancos levou ao surgimento de doenças que praticamente eliminaram os yanomami. Foi assim que Kopenawa viu os pais morrerem.

E, na década de 1980, milhares de garimpeiros invadiram seu território em busca de ouro, resultando em violência e novas doenças, o que reduziu a população nativa em 20%, segundo a Survival International.

Kopenawa diz que não morreu por ser “protegido pelo pajé”

É diante deste contexto que o líder indígena — cofundador e presidente da Hutukara Associação Yanomami, criada em 2004 — tem dedicado sua vida a proteger os direitos indígenas e o território do seu povo na floresta tropical.

“Eu continuo a luta pelos direitos do meu povo, nossos direitos à terra, saúde, nossa língua e costumes, nosso xamanismo e muito mais”, afirmou Kopenawa ao Right Livelihood Award.

Índios yanomamisDireito de imagemSURVIVAL INTERNATIONAL
Image captionOs yanomami vivem numa reserva na Amazônia cuja área é duas vezes maior que a Suíça

“O papel de Hutukara é defender o povo Yanomami e a nossa terra contra políticos, garimpeiros, fazendeiros e outros que querem roubar. Nossa terra é tudo o que sabemos. Eu não vou parar de lutar. Eu vou continuar até morrer.”

Em 1989, ele recebeu um prêmio da ONU pela defesa do seu povo.

Kopenawa, que aprendeu português já adulto, é autor ainda do primeiro livro escrito por um yanomami, A queda do céu. A obra, publicada em 2010, narra a trajetória dele e do seu povo, além de suas visões sobre o “homem branco”.

A premiação

O Right Livelihood Award, concedido anualmente, foi criado pelo sueco-alemão Jakob von Uexkull para premiar pessoas que oferecem soluções práticas para os desafios mais urgentes do mundo atual.

Desde 1980, o prêmio já foi entregue a 174 pessoas de 70 países.

Neste ano, o júri considerou 142 indicações de 59 nações, após um processo aberto de indicação.

A cerimônia de premiação acontecerá no dia 4 de dezembro em Estocolmo, na Suécia.

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