Seu governo foi duramente criticado por ter reagido muito tarde e por ter levado os militares às ruas.
Direito de imagem REUTERS Image caption O slogan “O Chile acordou” é usado desde o início das manifestações
Direito de imagem AFP Image caption “Corruptos na cadeia” e “Pela dignidade do nosso povo, vamos para a rua sem medo” eram outros lemas da marcha
Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption Também via-se o lema “Não estamos em guerra”, resposta a uma declaração de Piñera sobre as causas de incêndios em supermercados e estações de metrô
Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption Cerca de 200 pessoas protestaram tocando a música de Victor Jara “O direito de viver em paz”
Um dos momentos mais emocionantes da marcha foi provavelmente quando milhares e milhares de pessoas cantaram “El baile de los que sobran” (A dança dos que sobraram), música icônica do grupo Los Prisioneros que se tornou popular nos anos 80 como protesto e crítica a desigualdade sociais e falta de oportunidades no Chile.
Embora a marcha tenha sido pacífica na maior parte do tempo, grupos encapuzados causaram alguns distúrbios e a polícia usou água e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
Também houve queima de acessos a uma estação de metrô, saques e queima de barricadas em chamas.
Direito de imagem CRISTOBAL VENEGAS Image caption Após horas de marcha pacífica, houve alguns incidentes entre manifestantes e a polícia chilena
Direito de imagem AFP Image caption A polícia usou jatos d’água para dispersar os manifestantes
“Estamos todos lutando pela mesma coisa”
A manifestação na sexta-feira foi convocada para exigir do governo do presidente Piñera medidas concretas para atacar os problemas de desigualdade que afetam o Chile.
Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption Além dos slogans mais repetidos, como “Não estamos em guerra” ou “O Chile acordou”, muitas outras faixas foram vistas com mensagens diferentes entre os manifestantes
Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption A atmosfera festiva vivida na sexta-feira estava longe da ansiedade dos primeiros dias da eclosão da crise
Aos gritos de “O Chile acordou” e “O povo unido nunca será vencido”, enormes colunas de manifestantes avançaram ao longo de uma avenida central de Santiago.
Segundo o fotógrafo chileno Cristóbal Venegas, é a primeira vez em sua vida que ele vê algo assim nas ruas da capital chilena.
“Existem pessoas de classe alta e classe baixa aqui, todas juntas lutando pela mesma coisa”, ele diz à BBC Mundo.
Direito de imagem REUTERS Image caption Cidadãos de diferentes origens se juntaram para protestar nesta sexta-feira em Santiago
Direito de imagem REUTERS Image caption Também foram ouvidos gritos pedindo a renúncia de Piñera
De sua parte, a professora aposentada Clotilde Soto, 82 anos, disse à agência Reuters na manifestação que “isso me lembra a Marcha do Não antes do plebiscito de 1988”, lembrando da consulta pública que em 5 de outubro de 1988 tirou Augusto Pinochet do poder.
“E hoje estou marchando para ver se as coisas finalmente mudam realmente no meu país. Não quero morrer sem ver uma mudança”, disse ela, enquanto se deslocava pelo centro de Santiago.
“Um país digno”
Embora não tenha havido distúrbios na maior parte da manifestação, Venegas falou por telefone com a BBC Mundo da marcha em meio ao som de sirenes e balas de borracha.
Direito de imagem CRISTOBAL VENEGAS Image caption Embora a marcha tenha sido pacífica, incêndios intencionais podiam ser observados no centro de Santiago
Direito de imagem CRISTOBAL VENEGAS Image caption O fotógrafo Cristóbal Venegas, autor desta imagem, contou que esse violinista começou a tocar seu instrumento para incentivar as pessoas que protestavam
O fotógrafo relatou que a polícia estava atirando em alguns grupos e havia médicos voluntários ajudando os feridos.
“As pessoas estão morrendo porque não têm como sobreviver e fico indignado que tenhamos que viver para trabalhar”, refletiu.
“Espero que o Chile se torne um país mais digno de se viver”, concluiu ele, esperançoso.
Direito de imagem CRISTOBAL VENEGAS Image caption Uma das reivindicações da população chilena é a modificação do sistema de pensões
Direito de imagem CRISTOBAL VENEGAS Image caption O setor da saúde é dos mais afetados na situação em que o Chile está
Direito de imagem CRISTOBAL VENEGAS Image caption Os protestos desde a semana passada levaram as autoridades a declarar estado de emergência e toque de recolher em várias áreas do país
Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption Muitos acreditam que, entre as mudanças necessárias, é necessário escrever uma nova constituição
O Chile está passando por uma onda de protestos que começou na semana passada, depois que o governo anunciou um aumento no custo da passagem do metrô de Santiago. Os atos deixam um saldo de pelo menos 19 mortos e centenas de feridos.
Após fortes mobilizações nas ruas, o que levou as autoridades a declarar estado de emergência e toque de recolher em várias áreas do país, Piñera decidiu retirar a medida que, de qualquer forma, não havia servido para encerrar as manifestações.
Na última terça-feira, Piñera anunciou um pacote de medidas sociais que incluíam o estabelecimento de um salário mínimo garantido, entre outras iniciativas, mas que foi considerado insuficiente por seus críticos.