Primeira etapa do exame foi marcada por confusão no horário e foto da prova que circulou nas redes durante a tarde
Redação
Brasil de Fato
Mais de cinco milhões de pessoas participaram, neste domingo (3), do primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado em 1.727 cidades em todo o país. O tema da redação deste ano foi “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, considerado “uma ironia” pela União Nacional dos Estudantes (UNE), em um contexto de ataque ao setor audiovisual brasileiro pelo governo de Jair Bolsonaro.
Um dos textos motivadores da redação, segundo imagem da prova que circulou durante a tarde, abordou o número de salas de cinema no país e a concentração da oferta em regiões de renda mais alta nas grandes cidades.
A UNE chamou atenção para o fato de que se trata de um governo que “persegue e censura produções nacionais, desestrutura a ANCINE [Agência Nacional do Cinema]”, em referência aos recentes ataques a obras que tratam de temas como a diversidade sexual e de gênero e ao corte de mais de 40% no fundo audiovisual do país. “Certamente Bolsonaro zeraria”, afirmou a organização estudantil nas redes sociais.
Entre os temas que basearam as questões da prova, estavam bullying, liberdade de expressão, refugiados e violência contra a mulher. Comportamento nas redes sociais também foi um assunto discutido no enunciado de várias questões.
Pela primeira vez em dez anos, nenhuma das questões do exame fez menção à ditadura militar (1964-1985).
“Horário de verão”
Antes mesmo do início da prova, muitos brasileiros se depararam com relógios de celulares que adiantaram automaticamente em uma hora, apesar do cancelamento do horário de verão no país. Por causa do erro, muitos participantes chegaram adiantados ao local de prova.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela realização do exame, chegou a publicar um comunicado em suas redes sociais alertando para a questão, mas divulgou equivocadamente por alguns minutos o horário de abertura dos portões.
No fim da manhã, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, também publicou um vídeo no Twitter falando sobre um aparente “problema de telefonia” que antecipou alguns relógios, mas afirmou que já estava “tudo resolvido” para a realização da prova.
“Aparentemente houve um problema na telefonia local, no Brasil ou no mundo, a gente ainda não detectou, que antecipou alguns relógios e disparou algumas mensagens para algumas pessoas. Mas isso já está sanado, está tudo resolvido, e os horários estão mantidos”, afirmou Weintraub.
Foto polêmica
Uma foto da prova circulou nas redes sociais e teve sua veracidade confirmada pelo ministro da Educação e pelo Inep. O governo, no entanto, afirmou que o vazamento ocorreu quando os participantes já estavam fazendo a prova, o que não interferiria no exame. A Polícia Federal está investigando o caso.
A prova
O Enem é o maior vestibular do Brasil e o segundo maior do mundo. A prova é utilizada para avaliar a qualidade do ensino médio e também para o acesso ao ensino superior em universidades públicas do país. É também o exame que permite a concessão de bolsas parciais ou integrais em universidades particulares pelo Programa Universidade para Todos (Prouni).
No exame deste ano, além de escrever sobre o tema proposto de redação, os participantes tiveram que responder, em cinco horas e meia, a 90 questões sobre linguagens e ciências humanas.
Na próxima semana, os participantes do Enem farão as provas de matemática e ciências da natureza. O tempo de prova do próximo domingo (10) será de cinco horas.
O Enem 2019 teve 5,1 milhões de participantes inscritos. Até o fechamento desta matéria, não havia números oficiais divulgados sobre quantos dos inscritos efetivamente realizaram a prova deste domingo.
A publicação dos gabaritos e dos cadernos de questões deve acontecer no dia 13 de novembro e os resultados individuais devem ser divulgados em janeiro de 2020, ainda sem data confirmada.
O Enem, assim como outras políticas públicas do país, foi alvo de interferência do governo Bolsonaro, que, no início do ano, anunciou medidas para “expurgar a esquerda” e fiscalizar “questões ideológicas” no conteúdo da prova.
Edição: Aline Scátola