Por Fernando Brito, do Tijolaço – A libertação de Lula, iminente e inevitável, por mais chicanas a que se queira apelar, ajuda o Brasil a retornar à realidade.
O ex-presidente, artificialmente tirado do debate político há longo ano e sete meses, faz o país voltar a ter algo sem o que não há democracia, debate, contraditório: o Brasil volta a ter oposição.
Uma oposição que tem referência na memória e na vida dos brasileiros, porque a representada em alguém que tem a sua marca em um tempo em que este país acreditava em algo.
Restaurados os polos, as forças políticas agora se agruparão, mais ou menos próximas a eles, não na balbúrdia insana de hoje.
O Judiciário – ainda estamos distantes disso, infelizmente, tende a deixar o deformado protagonismo político que Lava Jato e mídia criaram e retornar a seu leito institucional.
Abalou-se o “Sergio Moro acima de tudo, Lava Jato em cima de todos”, embora ainda existam, e fortes, os ódios que levaram à endeusá-lo e a sanha que fez com que entregássemos os destinos do país a delegados e promotores que hoje, para os que têm olhos para ver, revelaram-se pouco mais que quadrilhas.
Não haverá mudanças imediatas, é lenta a precessão dos equinócios.
Mas a Terra, descomprimida que foi da forma plana que esta nossa Inquisição tupiniquim a pôs, volta a girar.
A volta de Lula à cena política é algo que lembra o que vi, com meus olhos e minha juventude: a volta dos exilados, em 1979, e de fato Lula foi levado a um exílio em Curitiba.
E, não duvidem: dele vai voltar sorrindo, conversando, disposto a conversar com todos que queiram conversar e até aturando os que não querem, porque sabem que só sem ele podem brilhar como estrelas de segunda ou terceira grandezas.
Porque é isso, como já foi antes em nossa história, a volta do brilho nos olhos da gente brasileira, mais forte e duradouro que as fagulhas de ódio que foram os argueiros que não deixavam ver o que é trave nos olhos deste país.
Lula sabe disso. Mais ainda, é sua natureza, à qual o desterro em uma cela em tudo parece ter se sublimado e que, agora, sai da prisão para voltar à História.