Imagem de Jânio rendeu Prêmio Esso de 1962 a Erno Schneider, fotógrafo do Jornal do Brasil
Na FSP
Naief Haddad
SÃO PAULO
“A República brasileira nasceu torta”, escreveu o historiador e jornalista Oscar Pilagallo. E torta ela continua –ao menos é o que dizem os pés dos nossos presidentes.
A Folha publicou nesta quarta (20) uma foto de Pedro Ladeira em que Jair Bolsonaro aparece ao lado de ministros durante a cerimônia de hasteamento no Dia da Bandeira, em Brasília. Sua perna direita vai pra um lado, a esquerda aponta para o outro.
É uma referência de Ladeira à imagem célebre do então presidente Jânio Quadros em 21 de abril de 1961. Ele estava na ponte que liga Uruguaiana (RS) a Libres, na Argentina, a caminho de um encontro com Arturo Frondizi, o presidente argentino.
Em 2001, quase quatro décadas depois, Ailton de Freitas, fotógrafo do jornal O Globo, clicou Fernando Henrique Cardoso prestes a dar um nó nas pernas durante solenidade com a Marinha no Palácio do Planalto.
A expressão corporal de Bolsonaro revive esses dois momentos da história.
“Por um lado, foi sorte. Como eu fiquei sabendo desse evento do hasteamento em cima da hora, não tive tempo de pegar a lente de grande alcance que geralmente uso pra cobrir cerimônias com o presidente. Então tive que fazer fotos mais abertas, o que me possibilitou colocar os pés do presidente no quadro”, conta Ladeira, fotógrafo da Folha há seis anos.
“A foto do Jânio, do Erno Schneider, é genial e sempre uma referência. Nunca me esqueço dela! Várias vezes procuro fazer fotos mais abertas buscando um momento como esse”, diz.
A imagem de Schneider se tornou a melhor síntese visual de uma personalidade profundamente contraditória, um político conservador que fazia acenos para a esquerda. Tantos passos e descompassos ficaram evidentes ao longo do curto mandato de Jânio.
Sete meses depois da foto na fronteira Brasil-Argentina, Jânio renunciou ao cargo. Em alguns anos, saberemos qual será o sentido histórico da imagem registrada por Pedro Ladeira.