FOI-SE O MESTRE-SALA (CABELEIRA)

FOI-SE O MESTRE-SALA (CABELEIRA)

Por Altair Santos – Certa vez, aos olhares estagnados procedeu o que seria o seu primeiro e interminável bailado. Num debulhar dançante entre o popular e o erudito, exibiu classe e leveza sem importa-se muito ou nada com as formalidades. E o fez…

Dançou sem abdicar do improviso coordenado, malandreado e jeitoso que a sua invencionice o animava fazer.

E diante de tantos hipnotizados o esguio e preciso passista rodopiou, fez um breque e escreveu no chão, ou melhor, sambou rabiscando no solo, como a dizer “aqui tô eu.” E assim, num meio giro maiúsculo, desenhou um ”C.”

Agora num rodopio, fez leve uma das penas, brecou o movimento, separou os pés em discreta curva de 25 graus e nos deu a letra ”a.”

Depois deu dois saltos, meio giro, repousou o pé esquerdo detrás do calcanhar direito, abriu os braços e curvou ligeiramente o corpo pra trás, era a letra “b”, aí estendeu um dos pés à frente e trouxe de volta em leve curva como fosse um laço e lá estava um “e”, depois esticou as pernas em movimento longitudinal e nos deu um um ”l,” retrocedeu ao movimento anterior e tascou outro fonema “e,” naquela lousa deitada. Adiante, sem perder tempo, saltitou num só pé como a pingar perfume ao chão, estendeu uma das penas para trás e eis o “i”, daí um movimento reto com as pernas e depois uma linha meio sinuosa e outra diagonal fazendo o “r”, logo sucedido doutro “a.”

Não foi bem assim, não foi! Na verdade, isso apenas traduz quantas vezes o vimos escrever na pauta do nosso samba de sempre a sua inesgotável marca: CABELEIRA.

De tão samba e tão sambista o mestre sala se foi hoje, justo neste 02 de dezembro de 2019, Dia Nacional do Samba.

Salve o Samba e Salve o Mestre Cabeleira!

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