Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia – Era um baile funk com 5 mil jovens dançando na favela de Paraisópolis, uma das maiores de São Paulo.
Na madrugada de sábado para domingo, chegou a polícia para fazer uma emboscada e transformar a festa em tragédia.
Jovens foram encurralados em vielas estreitas e tropeçaram uns sobre os outros, enquanto os PMs jogavam granadas de efeito moral e davam tiros com balas de borracha.
Nove morreram pisoteados e sete ficaram feridos.
Este é o mais perfeito e dramático retrato do Brasil do final de 2019, o ano em que o desgoverno bolsonariano desfechou um ataque sem precedentes contra a Educação, a Cultura e o Meio Ambiente.
Jovens, mulheres e negros são os alvos preferenciais das forças de segurança, que ganharam licença para matar sem punição, antes mesmo da aprovação da lei do “excludente de ilicitude”.
Doria, em São Paulo, e Witzel, no Rio, sob o alto comando federal de Bolsonaro e Moro, deram carta branca aos seus policiais, que nunca mataram tantos civis desarmados.
Ao mesmo tempo em que Paulo Guedes promovia sua “Brack friday” particular para vender o Brasil na bacia das almas e acabar com os direitos dos trabalhadores, a Amazônia ardia em chamas e as praias eram inundadas de óleo, os ministros alucinados da área social cuidavam de implantar o terror nas escolas e nas casas de cultura, rifando o futuro da juventude brasileira.
Sem espaços de lazer, os jovens da periferia ocuparam as ruas com seus “pancadões” para se divertir nos fins de semana, mas até isso agora é proibido, para não incomodar os vizinhos.
Para justificar o massacre em Paraisópolis, a PM alegou que estava fazendo uma perseguição a dois motoqueiros que se esconderam na favela.
O governador João Doria, que havia viajado ao Rio para fazer filiações no PSDB, limitou-se a divulgar uma nota em que determinou “apuração rigorosa dos fatos”, como de praxe.
E ainda fez elogios à atuação da polícia paulista.
“Eles fecharam as saídas das ruas e saíram espancando. Foi uma covardia”, relatou à Folha uma adolescente de 17 anos, que pediu para não ser identificada.
Um dos mortos, Denys Henrique Quirino da Silva, tinha 16 anos, morava com a família em Pirituba e trabalhava com limpeza de estofados.
Seu irmão, Danilo Quirino, estava inconformado com a versão da polícia de que ele morreu pisoteado porque não havia marcas no corpo.
“Meu irmão não era um criminoso. Ele trabalhava, estudava e também gostava de funk. Quem morreu foi inocente. Não tinha 5 mil criminosos ali”.
Os dois suspeitos e as motos não foram localizados, segundo a Folha. Nenhum policial foi preso até o momento em que escrevo.
Matanças como essa repetiram-se nos finais de semana por todo o país nas regiões onde moram jovens pobres como Denys, que viram apenas números nas estísticas da violência policial.
Se já é assim hoje, pode-se imaginar o que vai acontecer quando for aprovado pela Câmara o pacotão anticrime de Moro e Bolsonaro para empoderar ainda mais as polícias e os militares.
Tudo isso parece fazer parte de uma estratégia para provocar a revolta da população oprimida, justificar a convocação de tropas e fechar de vez o regime, em nome da lei e da ordem.
Falta ainda um mês para acabar esse primeiro ano da era bolsonariana que avança celeremente para o fascismo, com suas milícias reais e virtuais.
Numa coisa eles têm razão: o Brasil nunca mais será o mesmo.
E ainda vai ficar muito pior, se as forças democráticas não se unirem com urgência para dar um basta a tanta insanidade.
Vida que segue.